Uma luta de todos
EDITORIAL
Se tudo sair como querem os torcedores, principalmente do Real Madri, nesta tarde estará em campo, para enfrentar a seleção espanhola, um trio que promete fazer história nos próximos meses, talvez anos. Apostas feitas pelo Real quando ainda eram muito jovens, Vini Júnior, Rodrygo e agora Endrick foram adquiridos a peso de ouro, e apresentam outras semelhanças. Os três são grandes atacantes, provavelmente serão titulares da seleção brasileira nas Eliminatória em curso, até na próxima Copa, porém, tudo leva a crer que este trio de ouro será vítima das constantes manifestações racistas que acontecem na Espanha. Vinícius Júnior, inclusive, já passou por toda a sorte de provocações, incluindo ter uma espécie de boneco enforcado em uma ponte, e ontem, ao pronunciar-se em coletiva de imprensa como titular da seleção brasileiro, ele não segurou as lágrimas ao se referir sobre esses insistentes ataques. Endrick tem menos de 18 anos, porém, dentro e fora de campo, vai demonstrando uma enorme maturidade. Ele parece estar absorvendo muito bem tudo o que lhe é transmitido, e questões que envolvam o racismo estarão a um passo dele. Como serão suas reações? Ele responderá apenas dentro de campo, fazendo gols e lindas jogadas demonstrando desprezo pelos racistas? Ou, como Vini Júnior, se transformará em ativista a exemplo de seu companheiro? As lágrimas que caíram dos olhos de Vinícius demonstram claramente o quanto isso o incomoda: “cada vez tenho menos vontade de jogar”, disse o craque. “Acredito que seja muito triste tudo que eu venho passando a cada jogo, a cada dia, a cada denúncia vai aumentando esse sentimento. É muito triste, mas não sou só eu, mas todos os negros que sofrem no dia a dia o racismo verbal, que é minoria perto de tudo que os negros sofrem no mundo”. Esse é o racismo estrutural da Espanha, talvez um pouco mais declarado em relação ao que fazem em outras nações, mas vale para eles, vale para todos: a omissão sobre este tema é a única coisa que não devemos sugerir. Os esforços de Vini Júnior não são apenas dele, mas de toda pessoa que se considere humana.
Roberto Lucato
Foto: Rafael Ribeiro / CBF