Um tiro no pé

Um tiro no pé

EDITORIAL
A liberação dos depoimentos de militares no inquérito que investiga a chamada trama golpista indicou uma clara divisão nas forças armadas. Entretanto, a bem da vida como ela é – e está –, os mais graduados não cederam à tentação de transformar as últimas eleições em um grande “não valeu”, o que aproximaria o nosso país a outros como a Venezuela. Aparentemente, o ex-presidente Jair Bolsonaro liderou um movimento conspiratório, mas só o levaria adiante se contasse com o apoio incondicional das forças armadas, algo que não obteve, e isso explica o pequeno período sabático que ele mesmo se impôs após a derrota nas urnas. Interrompido quando tentou transmitir uma espécie de senha aos mais fanáticos, dizendo que tentou “tudo o que foi possível” – na prática, convencer o exército e a aeronáutica, braços armados que não seguiram à marinha. O que teremos a partir de agora? É de se esperar a responsabilização dos articuladores deste movimento, e o mais aguardado: o enquadramento em que tipos penais. Além disso, que se pare de imaginar que o Brasil é uma república das bananas. Nossas instituições não são perfeitas, mas funcionam, e o sistema eleitoral, à despeito de tudo que dele foi falado, nos garante a alternância do poder. Quase metade do Brasil não gostaria de ver o presidente Lula onde está, hoje, mas fazer o que? É assim que funciona a nossa democracia. Em Limeira, mesmo, há a chance de reinserirmos uma organização criminosa na prefeitura em poucos meses; se isso acontecer a “culpa” será dos eleitores e dos candidatos incapazes de se apresentarem como melhores opções. Pode parecer estranho, mas não é. Trata-se apenas da chamada dança das cadeiras, que felizmente continua a valer.

Roberto Lucato

Ilustração: Freepik

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