Trump se fortacele

Trump se fortacele

EDITORIAL

Dos cinco últimos presidentes norte-americanos que antecederam a Donald Trump, apenas George Bush pai não se reelegeu em 1993. Os demais – Ronald Regan, Bill Clinton, George Bush filho e Barack Obama – ocuparam o salão oval da Casa Branca por longos oito anos, até que o milionário fosse demitido de seu posto por Joe Biden, encerrado um tumultuado processo eleitoral. Porém, embora todos possuíssem linhas administrativas distintas, alinhadas com seus partidos, Trump foi um ponto fora da curva por diversos aspectos. Inicialmente, como milionário, sua independência econômica guiou tudo aquilo que falou, fez e propôs na Casa Branca. Esse perfil foi determinante para que ele obtivesse a adesão de grupos conservadores mais radicais, talvez surpresos por tamanha autenticidade e destemor. Os mais “animados”, inclusive, participaram da grotesca invasão do Capitólio em protesto às falhas do sistema eleitoral, muitos dos quais cumprem penas até hoje. À época, depois de conduzir a política internacional à sua maneira e a economia dentro de um esperado protecionismo, Trump disputou a reeleição longe de figurar como favorito: sua vantagem residia apenas no fato de ter um oponente mais fraco na oratória e dono de um passado não apenas nebuloso como repleto de gafes e desacertos. Entretanto, a truculência que marcou o seu mandato, incluindo sua repulsa à diversidade – incluindo os imigrantes – orientou o voto de uma minoria que consagrou o oponente. Eis que agora, as primárias estaduais revelam que eles se enfrentarão novamente em outubro, diante de um quadro geopolítico bem diferente. O retorno dos republicanos ao poder pode alterar sensivelmente o curso de alguns conflitos atuais, e mesmo a significância da OTAN; a permanência de Biden, no entanto, deixará a situação como está, e a pergunta é: o que estaria chamando a atenção dos eleitores norte-americanos desta vez? Os Estados Unidos vivem o chamado pleno emprego, a inflação diminuiu e, ao contrário da última disputa, Trump chega fortalecido. Os números da economia, afinal, não estão sendo considerados como ocorre no Brasil? Existe uma explicação nada técnica e antiga nos processos eleitorais: às vezes os eleitores reconhecem que está tudo em ordem, mas desejam mudar só para indicarem que ainda existem. E para ver se melhora ainda mais.

Roberto Lucato

Ilustração: Freepik

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