A difícil arte de empreender em Limeira

A difícil arte de empreender em Limeira

Ponto Um

Da série “Limeira é uma péssima mãe e ótima madrasta”. Durante a semana revi um amigo que estudou com meu filho. Formado, jovem e bem sucedido, tornou-se sócio de um restaurante de alto padrão aqui na cidade, e revelou as dificuldades para atrair a clientela: “o limeirense continua se arriscando nas estradas para jantar fora; come mal, gasta muito e não valoriza nada por aqui”. Seu desabafo revelou apenas uma triste realidade, que já dura anos, e me lembrei de um episódio recente. Na Avenida Miguel Stefano, que circunda a orla da praia da Enseada, no Guarujá, foi demolido há quase um ano um antigo restaurante chamado Velho Pop. O local não era luxuoso, apenas tradicional, pois seus garçons pareciam personagens da década de 1970, trajando camisas brancas, gravatas borboleta e coletes. Por isso não houve qualquer comoção com o seu desaparecimento, e sim curiosidade: o que seria aberto, lá? Aos poucos ergueu-se um novo prédio com dois andares, com estrutura rústica de blocos de cimento aparente, pintados de verde, e um objetivo: o comércio de espetinhos. Recentemente no litoral, levei minha esposa para conhecer essa nova casa e nos acomodamos em uma mesa na calçada. Ganhamos uma pulseira colorida da atendente e logo fizemos o pedido: um sanduíche de calabresa para dividirmos. Assim que a moça partiu em direção à cozinha apareceu um homem, perguntando: – Roberto? Respondi, sim, e ele continuou. “Minha esposa o reconheceu, lá de dentro; somos de Limeira, também, e sou proprietário desta casa!”. Depois de cumprimentá-lo pelo bom gosto, ele informou que trabalhou na antiga fábrica dos Espetinhos Mimi, até que os sucessores não conseguiram mais manter a qualidade tradicional. Isso o inspirou a montar seu próprio negócio, que em breve se transformará em franquia. Ele contratou um fornecedor de carnes na Capital e nos mostrou as embalagens que monta para levá-las ao litoral, semelhante ao que fazia outro limeirense, que por muitos anos manteve um quiosque na mesma praia da Enseada, Adriano Moffato. Sua mãe fazia coxinhas de frango que eram uma verdadeira sensação nas temporadas, mas voltando ao ponto: quem conhece esta cidade sabe muito bem. No setor de alimentação, as escolhas são muito estranhas. Parece que os consumidores só gostam de lugares sujos, de comer torresmo e serem maltratados pelos atendentes. Enquanto essa mentalidade persistir continuaremos a ser um deserto de boas opções. Boa sorte a quem sabe disso e constrói seus projetos fora daqui.  

Roberto Lucato

Ilustração: Freepik

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