Vade-retro!
EDITORIAL
Começava, nos idos de 1960, um revezamento administrativo em Limeira no mínimo curioso. Não se pode dizer que, depois de cumprirem três mandatos, quando não havia reeleição, que Paulo D’Andréa e Jurandyr Paixão não deixaram suas marcas. Uma delas semelhante: a maneira melancólica com a qual encerraram suas vidas públicas. O primeiro, sendo preso por crime ambiental; o segundo, sabotando a própria campanha de quem estava preparada para lhe suceder. Nas décadas seguintes, os gestores do Paço Municipal também se empenharam em perpetuar algum traço particular que pudesse ser lembrado no final dos tempos, talvez. Os mais antigos, que preferiam Paixão, destacavam sua autenticidade e seu poder decisório; já os admiradores de D’Andréa enalteciam sua discrição. Pedrinho Kuhl usou bem seu carisma a será lembrado por isso; seu sucessor, José Carlos Pejon, nem teve tempo para esquentar a cadeira, como, lá adiante, aconteceria com o vice de Silvio Félix, Orlando José Zovico. Paulo Hadich fez um governo desastroso e semeou o caminho para a vinda daquele que, se tudo correr como indica o protocolo, deixará não apenas a administração municipal, mas uma espécie de reinado. Um conto de fadas que quase lhe escapou das mãos há quatro anos, quando tinha apenas um viaduto para exibir ao eleitorado. Não fosse a indecisão da Dra. Mayra, terceira colocada no primeiro turno, estaria fora merecidamente do Edifício Prada. E, se falamos em traços, características, Mário reúne o que de pior pode residir na alma humana. A começar pelo cinismo, o que o fez desenvolver outra característica: a oferta, em profusão, do desdém. Mário, a partir de sua reeleição, não teve secretários; teve vassalos. Aos amigos e parceiros, que tanto ajudaram e torceram para sua permanência, sequer oferecia uma palavra, um encontro, uma mínima manifestação de empatia. Porque, sabemos, os soberbos de espírito não cintilam como estrelas, mas agem como buracos negros no universo. Vagam, em sua existência, destruindo quem esteja pela frente. Impiedosamente. Por isso será compreensível que muitos, amanhã livres, tenham a sensação de acordar de um pesadelo. Arrogante, inescrupuloso, ardil, narcisista e egoísta, do que ele será mais lembrado? Dizem, com sabedoria, que tudo nessa vida passa, até ela em si, e talvez ele se lembre disso algum dia. Quando não tiver mais à disposição um staff sempre pronto para enaltecê-lo, e não atender aos interesses dos munícipes. Talvez lhe falte, mesmo, uma ideia de continuidade familiar, por isso será provável que continue a viver como se não houvesse amanhã. Não se pode ter tudo, e talvez um dia ele se lembre disso. Vade-retro, Mário!
Roberto Lucato
Ilustração: Arquivo TL