Uma inesperada crise cultural

Uma inesperada crise cultural

EDITORIAL

No comentário anterior tratávamos de uma espécie de linha do tempo das atividades artísticas, gastronômicas e culturais de Limeira nas últimas décadas, e hoje tentaremos aprofundar o tema abordando em que medida o poder público pode interferir no assunto. Porém, não voltaremos tantos anos e tomaremos como ponto de partida a pandemia. No período de isolamento forçado, um dos primeiros setores atingidos foi o cultural. Porque, tudo o que se possa pensar neste aspecto, insinua aglomeração, o que não era permitido no início desta década. Mas artistas, sempre eles, inovam. As “lives” passaram a ser uma maneira de expressão cênica e musical; em menor ou maior escala, lá estavam elas nas telas dos celulares em horários comuns e ousados. Porém, como os artistas não vivem de brisa, tornaram-se necessários mecanismos de transferência de renda àqueles com menor capacidade de arrecadação. A Lei Paulo Gustavo, por exemplo, embora contestada à época, foi uma dessas ferramentas, passando necessariamente pelo crivo das secretarias de cultura, estaduais ou municipais. Responsáveis mais ativos dessas pastas viabilizaram inúmeros projetos que deram sustentação às artes, e aqui começa a encrenca. Em várias ocasiões e em diferentes administrações, o professor José Farid Zaine foi o maestro de uma complexa orquestração, que começava na oferta de diversos cursos – sempre com suas vagas preenchidas – até um respeitoso calendário de shows e peças apresentadas no Teatro Vitória. Era comum, no final de cada mês, a secretaria de Cultura divulgar sua extensa programação, o que hoje acontece sem qualquer frequência e com um detalhe curioso: por falta de atividades próprias, a secretaria inclui eventos nos quais ela apenas empresta equipamentos – normalmente tablados e aparelhos de som. Isso não é cultura! Quem acompanha o noticiário sabe muito bem. A transição de governo, que ocorreu entre novembro e dezembro do ano passado, foi um desastre por dois aspectos fundamentais: o primeiro, pela demora na indicação dos secretários. O segundo, pelo desinteresse do atual prefeito em dar continuidade naquilo que estava dando certo. E a cultura era uma dessas áreas, talvez a mais representativa. Sequer as retretas dominicais das bandas limeirenses são prestigiadas. Pela pasta e pelo público. Com menos de seis meses em ação, a secretaria de Cultura não disse a que veio. Faltam eventos e público para prestigiá-los, quando existem. O atual prefeito deixa claro que seguirá os passos do pai, que tinha um projeto próprio de administração – voltada para si e seus interesses pessoais. Deu no que deu. Vamos acompanhar de perto o passo a passo dessa Via Crucis, que aliás, nem ela aconteceu.

Roberto Lucato

Foto: Apresentação musical com frequência mínima na Praça Toledo Barros

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