Um novo sequestro

Um novo sequestro

EDITORIAL

Não poderia ter acontecido em pior momento a premiação da Fernanda Torres para os mais radicais “direitistas”, como diria Odorico Paraguaçu. Às vésperas do segundo “aniversário” de 8 de Janeiro, o filme revelando o ruidoso caso da família Paiva durante a ditadura brasileira e que, de quebra, bate recordes de bilheteria, soa como provocação, e não uma mera coincidência. Sobre Ainda Estou Aqui trataremos outro dia, mas o fato é que o presidente Lula, e seu entorno mais radical, da mesma forma que acusam o ex-presidente pelo “sequestro” do 7 de Setembro, fazem o mesmo com a data em que a Praça dos Três Poderes foi vandalizada, para se dizer o mínimo. Porém, não devemos nos esquecer de alguns fatos tão ou mais relevantes se queremos tratar de “democracia”. Por exemplo, dos excessos e ilegalidades cometidos pela mais alta corte do país na prisão dos suspeitos. Além disso, muitas distorções foram observadas durante do julgamento. Revela o jornal O Globo que, até agora, o STF já condenou 371 pessoas, 225 consideradas “executoras” e, 146, “incitadoras”. Vale lembrar que, passados quase dois anos das prisões, alguns réus ainda aguardam por justiça: na última sexta-feira, um morador de rua finalmente foi solto, juntando-se a outros quatro que obtiveram a mesma sentença. Democracia, também, significa o direito a um julgamento isento de paixões, principalmente políticas. Portanto, fazer apologia a essa data, revela a personalidade política do presidente, mas, considerando suas funções de Estado, é o “mais do mesmo” feito por Bolsonaro em suas aparições na Avenida Paulista. Não se construirá “pacificação” neste país enquanto isso persistir e aqui, empresto uma boa definição escrita por Joel Pinheiro da Fonseca na Folha de S. Paulo: “A democracia liberal nada mais é do que uma maneira de organizar o poder na sociedade. Apesar dos problemas, é a melhor que conhecemos, pois permite que toda a população tenha voz, que direitos minoritários sejam protegidos e que o poder troque de mãos pacificamente. Sua preservação depende de um pacto universal: garantir o cumprimento das regras do jogo é mais importante do que a vitória do meu time na próxima partida. Para isso, as lideranças de direita devem rechaçar o discurso negacionista das urnas. E a esquerda deve abandonar o discurso de que toda oposição é uma ameaça à democracia”. É isso!

Roberto Lucato

Ilustração:: Freepik

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