Um duelo esperado

Um duelo esperado

Ponto Um

Durante a apresentação do primeiro “Farol” do ano, discutimos a possível influência da Inteligência Artificial neste período que antecede as próximas eleições. No pleito presidencial, por exemplo, a Justiça Eleitoral montou um verdadeiro quartel general para monitorar as redes, deixando a impressão, em várias decisões, que elas pecaram mais pelo excesso do que pela falta. O declarado objetivo, alegaram as autoridades, sempre foi o combate às “notícias falsas”, ainda que tal interpretação, em muitos casos, seja essencialmente subjetiva. O problema é que agora, não somente uma notícia pode ser falsa como, supostamente, partir de algo – ou alguém –  que não existe. Ou seja, criado como se verdadeiro fosse. Em Ciudad del Este, no Paraguai, são comercializados diariamente dezenas de rótulos de bebidas e perfumes, entre os quais estão os originais e as cópias. Na maioria das vezes é fácil saber o que seja uma coisa ou outra, principalmente em função das embalagens. Os produtos falsificados raramente possuem um bom acabamento, mas como descobrir se um pronunciamento, por exemplo, não foi emitido por uma determinada pessoa? Segundo reportagem divulgada nesta semana, o FMI estima que a Inteligência Artificial afetará 40% dos postos de trabalho nos próximos anos, chegando a 60% em países mais desenvolvidos. O que isso significa? Que essas ocupações serão extintas? Que os humanos serão cada vez mais dispensáveis? Ou que, teoricamente, quem não estiver ambientado na tecnologia digital estará condenado ao trabalho braçal? Ninguém sabe ao certo. No ano passado, vários alertas foram feitos por cientistas e empresários no sentido de a humanidade frear o uso da AI. Ninguém deu a mínima, o que significa dizer que avançaremos cada vez mais rumo ao desconhecido, em busca de soluções sempre imediatistas, paliativas e essencialmente lucrativas, é isso o que acontecerá. Na verdade esse é o ciclo na história humana, pois para cada descoberta nascem benefícios e riscos. A pólvora foi ótima para acender fogueiras, mas depois serviu para municiar balas. Os átomos produzem uma boa energia, mas depois destruíram duas cidades no Japão. Enfim, talvez esteja chegando o duelo derradeiro entre homens e máquinas, tão aguardado por adeptos de ficção científica. E tão temido por aqueles que ainda cultivam a nossa verdadeira essência, de amor e gratidão.

Roberto Lucato

Ilustração: Freepik

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