Tudo “precificado”

Tudo “precificado”

EDITORIAL

Tentando melhorar os baixíssimos índices de audiência do ano passado, esta nova edição do Big Brother Brasil promete não somente ser mais quente do ponto de vista erótico, como em suas pautas de comportamento, recortadas de falas muitas vezes desconexas de seus participantes. E a primeira já está dando o que falar e se relacionada, em princípio, com preferências gastronômicas. Desde que sua produção decidiu incluir celebridades entre os participantes, e não somente anônimos, é natural que estes recebam mais atenção por parte do público. A cantora Wanessa Camargo, por exemplo, teria demonstrado preocupação quanto à sua dieta vegetariana, mas questões envolvendo a modelo e empresária Yasmin Brunet ganharam as ruas. Tudo porque, um cantor que mais se assemelha a um artista circense, resolveu dizer que a filha Luiza Brunet “está velha” e “já foi melhor”. Quase no mesmo instante, outra beldade do imaginário popular, Paolla Oliveira, tornou pública toda a sua revolta ao ser chamada de “velha e ultrapassada” por pessoas que acompanharam suas imagens durante ensaios de uma escola de samba. O ponto em comum entre os dois episódios envolve machismo e etarismo: no primeiro caso, a classificação de mulheres como objetos. No segundo, o preconceito em função da idade, ainda que ambas estejam bem distantes de ganharem cartões de estacionamento preferencial. Porém, analisar estas situações é como enxugar gelo em um país como o nosso, portanto, é melhor investigar um outro ponto. Quando as pessoas recebiam uma boa educação, não era de “bom tom”, como se falava, entre outras ações, perguntar a idade de uma pessoa ou se referir se ela havia engordado ou emagrecido. Principalmente para mulheres. A explicação é simples: ninguém é capaz de prever como esses pontos atingem alguém psicologicamente. Inconveniências como essas, inclusive, receberam mais tarde o nome de “bullying” – aliás, melhor tipificado a partir de agora, por lei. O problema é que não vivemos no “antigamente”, mas em uma época em que “causar” tornou-se rotineiro na vida de alpinistas sociais, digitais e musicais. Uma pena.

Roberto Lucato

Ilustração: Instagram Paoola Oliveira

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