Trump sendo… Trump
EDITORIAL
A imprevisibilidade inquieta o jornalismo e assim, nas últimas semanas, análises sobre o futuro de Donald Trump não levaram muito à sério algumas ideias polêmicas do novo presidente dos Estados Unidos. Por exemplo, em anexar o Canadá, administrar a Groelândia e o Canal do Panamá e renomear o Golfo do México como “Americano”. É improvável que essas pautas saiam do papel, é verdade, mas o fato é que Trump reforçou, em seu discurso de posse, essas e outras ideias, algumas suficientes para deixar os ambientalistas desesperados. Por exemplo, quando se referiu a sustentar o crescimento estadunidense com petróleo e gás. Ele, de fato, é um notável comunicador, porque não apenas expõe seu pensamento com clareza como dramatiza seus discursos; e, pouco depois de prestar seu juramento, relembrou todos esses pontos sacramentados durante a campanha eleitoral. Trump também não se preocupou em poupar o ex-presidente Joe Biden, em particular os democratas, falando sobre corrupção e como seus opositores retiraram o país da posição de liderança global, e aqui um particular. Cada nação possui suas peculiaridades em posses presidenciais, mas, no caso em questão, seria plenamente dispensável a presença do antecessor, e sua vice, neste caso, para ouvirem um quase sermão sobre o que não fizeram. Afinal, o exercício de papéis públicos, em qualquer situação, jamais é consensual; críticas são inevitáveis e, se pertinentes ou não, cabe a história julgar, mas não deveriam constar do roteiro. No mais, se a primeira impressão é a que fica, em resumo Trump reforçou a que veio. E chega, a sua derradeira chance, eivado de rancor e, ao mesmo tempo, determinado para fazer de seu último mandato um período, no mínimo, diferente, ousado e insinuante. Por enquanto, sobra-lhe a percepção que nos próximos quatro anos ele terá que fazer jus a uma espécie de providência que o manteve vivo em dois atentados. Para os progressistas, Trump entregou um nebuloso cartão de visitas. Para os conservadores, em particular os radicais de direita, o presidente empossado servirá de combustível para incendiar um conjunto de pautas que nos últimos anos jamais caíram no esquecimento. O pensamento de tornar a “América grande novamente” parece que, desta vez, trará efeitos colaterais, como observamos no início, imprevisíveis.
Roberto Lucato
Ilustração: Reprodução X