Três estrelas no céu
Ponto Um
Acho fascinante como construímos, de pequenos fragmentos, algo que nos devolve ao colo de nossos pais. Porque recebemos deles não apenas educação, mas hábitos e costumes que ficam gravados e retornam a todo o instante. O falecimento de Lolita Rodrigues, ocorrido no último final de semana, foi um desses fragmentos. Os mais jovens, digamos, devem ter se lembrado dela apenas pelos recortes que circulam de sua entrevista icônica, no programa do Jô Soares, ao lado de Nair Belo e Hebe Camargo. Foi, sem dúvida, um momento inesquecível, mas, agora, de volta às personagens, isso me fez lembrar os tempos em que mamãe assistia regularmente o Almoço das Estrelas. Lolita apresentava este programa com seu marido, Airton Rodrigues, e me recordo bem do estilo, uma formato semelhante às reuniões festivas de Lions Club. Eu as frequentava, ainda pequeno, por isso associo, e prossigo. Nair Bello, nesta mesma época, era casada com Irineu de Souza Francisco, limeirense e muito amigo de meu pai. Não foram poucas as vezes que esses casais se encontraram em São Paulo e no Rio, ao lado de artistas. Ainda circulam registros fotográficos desses momentos, que volta e meia aparecem em colunas nostálgicas, mas voltemos à Nair Bello, que empresta seu nome a um teatro em Limeira, uma justíssima homenagem. Ela enfrentou um momento de enorme tristeza com o falecimento do filho Manoel, de apenas 20 anos. Superada a depressão, pelas mãos de Chico Xavier, voltou ao palco em 1976, e continuou fazendo sucesso. As três amigas, portanto, não eram apenas representantes do bom-humor, porque essa característica as unia. Foram, de fato, grandes estrelas e precursoras da televisão brasileira, em uma época repleta de preconceitos contra as mulheres. Elas romperam as barreiras de seu tempo, foram guerreiras de verdade e hoje, reunidas no céu, estão imortalizadas por tudo o que fizeram pela arte. Inclusive, unidas pela humildade, característica comum. Hebe, inclusive, teve um gesto de generosidade com minha esposa Márcia, que a presenteou com uma imagem de Nossa Senhora durante a gravação de um programa. Ela fez questão, além de agradecer, de enviar uma mensagem carinhosa, gravada, guardada até hoje, e pergunto: existirão pessoas assim, novamente? Gente que não procura o sucesso, porque simplesmente o produz? Pessoas que tratam seus fãs como semelhantes e, especialmente no caso delas, com amor e alegria? Cada vez mais estamos nos despedindo de pessoas íntegras, que fazem muita falta nos tempos de hoje.