Testemunhas do fiasco

Testemunhas do fiasco

EDITORIAL

Um dos mais antigos jargões do mundo jurídico diz que a prova testemunhal é a “prostituta das provas”. Não é à toa. Ainda na faculdade, os alunos foram convidados a ler uma pequena história em silêncio para depois reproduzi-la na sala de aula. Um ia passando os fatos aos outros, separadamente, até que depois da reprodução feita por oito ou dez alunos, ficou claro: o último a contar a “história” não apenas fez omissões como acrescentou detalhes não existentes. É o que mais ou menos se viu ontem, e o que teremos nos próximos dias, nos interrogatórios dos acusados pela “trama golpista”. Não há dúvidas que se trata de um julgamento mais político que jurídico, e tudo o que possa ser dito pelos réus provavelmente não alterará o que previamente já está decidido pelos julgadores. Principalmente pelo ministro Alexandre de Moares, dono até agora de uma disposição pouco observada na história do Supremo Tribunal Federal para sentenciar os acusados. Mas, o que temos até agora? Grosseiramente, pois faltam alguns detalhes ilustrativos, uma tentativa de golpe de Estado mal construída e sepultada antes do nascimento pela hesitação do ex-presidente Jair Bolsonaro. Está claro que ele apoiava a medida – ou provavelmente a construiu – porém, ao não assinar a proclamada “minuta”, ele terceirizou uma responsabilidade que era somente sua. Em resumo, ele se acovardou. O tal “golpe tupiniquim”, portanto, foi uma discussão levada a sério somente por alguns membros do governo, cegamente apoiadores do presidente, que não tiveram força suficiente para demover, de seu superior, algo tão ridículo. Os testemunhos prosseguirão, recheados de “talvez esteja enganado”, “não me lembro direito”, “não participei daquela reunião”, enfim, e enquanto se prostitui a verdade, resta saber qual será o enquadramento, de fato, dos crimes cometidos, e suas respectivas penas. Por enquanto, temos apenas uma tentativa digna de uma republiqueta, grosseiramente mal executada.

Roberto Lucato

Foto: STF

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