Terra, paixão e vilão
EDITORIAL
Com direito à cena de casamento, assassinato do vilão e núpcias de homossexuais em plena cadeia, terminou mais uma novela das nove, Terra e Paixão. Desde a exibição de seus primeiros capítulos, especulou-se o interesse do autor – e da emissora – em aumentar a narrativa contra o agronegócio, setor sempre defendido pelo ex-presidente Jair Bolsonaro, alvo permanente da Globo. É difícil dizer que Antonio La Selva, personagem magistralmente interpretado por Tony Ramos, não tenha sido criado com esse fim, porque ele possuía, como dizem, tudo de ruim. Mandante de crimes, marido infiel, pai seletivo e explorador de mão de obra, tudo isso e mais um pouco foi descrito capítulo a capítulo, tentando de todas as maneiras influenciar as pessoas que não conhecem a vida no campo que o La Selva representa os produtores rurais. Não contente, a Globo tenta emplacar a mesma temática com o “remake” de Renascer, sucesso de vinte anos atrás. Parece que a emissora perdeu o interesse nas temáticas urbanas, preferindo gravar cenas de sexo no mato, mesmo. Uma pena porque descontruir a imagem do homem do campo é leviano e existem inúmeros motivos. A começar compreendendo que o agronegócio é uma atividade de alto risco. Ontem mesmo, um empresário, proprietário de sete fazendas, revelou que estava disposto a vender cinco delas. Não estava mais motivado em correr tantos riscos com mudanças climáticas como tem ocorrido, e um outro fator importante: a escassez de mão-de-obra. Ele comentou também que o conserto de maquinário – tratores, pulverizadores e semeadeiras – não fica por menos de quinze mil reais a cada visita em uma oficina. Perguntaríamos então: com o arroz, feijão e óleo custando o que custam, os agricultores não ganham o suficiente? Sim, ganham, mas existem grandes diferenças entre pequenos, médios e grandes produtores, sendo proporcionais – repetindo – os riscos que todos correm. Perder uma safra, em muitos casos, pode representar um solavanco e duas pode ser o fim do negócio. Vamos ver o que acontece com o cacau, agora, a estrela de Renascer.
Roberto Lucato
Ilustração: Freepik