Ter uma segunda chance

Ter uma segunda chance

Ponto Um

Ilha Grande e Ilhabela são pontos de relevância turística, na Costa Verde carioca e no Litoral Sul paulista, respectivamente. Mas apenas os ventos insulares são parecidos: Ilha Grande ficou conhecida, no passado, por abrigar presídios de segurança máxima. Talvez por este fato não recebeu dos governadores fluminenses um olhar futurista, que incluísse padrões urbanísticos do porte de uma cidade. Sem acesso para automóveis, esse distrito de Angra dos Reis recebe frequentadores que se contentam em carregar as malas nas costas ou entregá-las a um grupo de operadores chamados “carreteiros legais”. Quem não gosta de aventura ou de praia todo não precisa conhecê-la, ainda que os pontos de exploração sejam belíssimos. Ilhabela, por outro lado, foi privilegiada não apenas por sua proximidade do continente, mas com o fascínio que encantou os endinheirados de plantão. Agora, com os royalties do petróleo, não sabe mais o que faz com tanto dinheiro. Diferente de Ilha Grande, não é para qualquer bolso. Seus restaurantes, pousadas e hotéis se aproveitam da benevolência dos “encantados” para lucrar muito. Outro ponto em comum que havia me esquecido: normalmente elas são desbravadas pelo mar, através das paradas dos cruzeiros marítimos. Aliás, conheci ambas deste modo, e possuem inúmeras histórias de naufrágios. Quem passeia em pequenas embarcações se encanta com a deslumbrante cor do oceano, mas se assusta com o ambiente silvestre que a noite traz. Na semana passada, um caso curioso aconteceu na ilha carioca. Uma garota se dispôs a filmar uma noite particularmente linda quando, na popa do navio, percebeu pedidos de socorro vindos do mar. Ela observou pessoas se agitando com o auxílio de uma lanterna, e saiu em desespero pedindo ajuda. Atendida, o comandante do navio avisou os passageiros do ocorrido, enquanto enviou uma embarcação de resgate. Dos oito náufragos houve o registro de uma morte. Há estatísticas que muitas pessoas se atiram ao mar durante cruzeiros, por um fascínio mórbido ou por tendências suicidas, mas fiquei pensando: os resgatados conseguiram que uma moça, filmando seus “stories”, os vissem, o que lhes possibilitou mais uma chance de viver. Muita gente, descontente com a vida, parece que às vezes precisa chegar a um ponto desses para repensar e prosseguir com mais alegria. Esse caso me reanimou na busca de novas oportunidades, pois a vida é única e preciosa. Só não saberia dizer, se tivesse que escolher, em qual das ilhas terminaria meus dias. Se uma tiver uma segunda chance, portanto, mãos à obra!

Roberto Lucato

Ilustração: Freepink

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