Tal e qual

EDITORIAL

Muitos devem se lembrar de um recorte que viralizou durante uma campanha eleitoral. Aquele em que o ex-prefeito Silvio Félix fez um treinamento de vídeo com seu filho Murilo, com direito a reprimenda. Na verdade, aconteceu o seguinte: Silvio estava impedido de concorrer à prefeitura, mas ele conseguiu registrar sua candidatura, que mais tarde seria indeferida. E assim, ele omitiu seu nome das peças da campanha reforçando apenas o seu sobrenome, para favorecer o filho que o substituiria. A estratégia deu certo, mas a votação nem chegou perto aquilo daquilo que ele imaginava, mas começaria naquela época o que se compreende como “troca de bastão”. Silvio tem dois filhos e um deles é avesso à política, portanto, qualificar Murilo para transferir-lhe o seu capital eleitoral sempre foi um objetivo. Tanto é verdade que, por essa persistência, Murilo perdeu e ganhou na penúltima vez que disputou uma cadeira ao Edifício Prada; ele perdeu como prefeito, mas, como suplente à época, ele conquistou uma vaga de deputado estadual, cargo também ocupado por poucos meses por sua mãe, a ex-vereadora Constância Félix. Assim sendo, temos em Silvio e Murilo uma versão humana de Bibo Pai e Bobi Filho, um desenho animado que fez muito sucesso nos anos 1970. Mas uma nova questão se impõe, e esta novidade pode exigir saídas ainda não imaginadas. Por exemplo, o ônus e bônus do cargo der prefeito. Explica-se. Rumores dão conta que o prefeito concedeu uma pequena sala ao pai no Paço Municipal, claro, para facilitar o encontro entre ambos. Também, de onde despachará informalmente o prefeito cassado e certamente tratará, a portas fechadas, dos assuntos mais espinhosos. O problema é que nem sempre as exigências do cargo creditarão, ao atual alcaide, situações de popularidade como ele deseja em suas “lives” quase diárias. E, ao cumprir essas ordens superiores, o julgamento da opinião pública recairá sobre ele, nunca sobre o pai. Nessa questão da greve, por exemplo, existe um evidente desgaste muito por conta de suas promessas de campanha, não cumpridas agora. Do ponto de vista afetivo, nenhum pai deseja que seu filho seja incompreendido ou malvisto pela população, e aqui mora o perigo. Embora tenham a frieza como uma característica de personalidade, uma decisão desfavorável que Silvio bancaria do alto de sua experiência, isso se aplicaria ao filho? O pai, ao sugerir-lhe uma decisão sujeita à desgaste popular, como ficaria do ponto de vista pessoal? Resumindo, a cidade possui hoje dois prefeitos: um, de fato, outro, de direito. Se isso dará certo, dá para imaginar.

Roberto Lucato

Ilustração: Reprodução