Surgirá um novo Trump?

Surgirá um novo Trump?

EDITORIAL

Durante confrontos policiais, em especial no Rio de Janeiro, muitas pessoas são feridas – enquanto outras, lamentavelmente morrem –, vítimas de disparos não intencionais: são as chamadas balas perdidas. Nessas operações o que não faltam são os “tiros de raspão”, mas o que aconteceu com o ex-presidente Donald Trump foi, definitivamente, surreal. Ele teria comentado com seu antigo médico da Casa Branca que foi salvo pelos “imigrantes”. É curioso, mas pode ter sido real. Durante seu discurso, em um dado momento ele se vira para olhar para um imenso painel que descrevia o aumento de ilegais nos Estados Unidos, em gráficos. Ao posicionar seu rosto mais ao lado, a bala atinge apenas a sua orelha, e até agora existem mais dúvidas que explicações. Quanto ao atirador, tudo indica ter sido um “lobo solitário”, mas vamos às primeiras perguntas: o serviço secreto falhou? É claro que sim. Alguém não vigiou como se esperava os telhados nas imediações, ou quem poderia circular neles. Outra: em que direção irão as campanhas à partir deste episódio? Quanto aos democratas, devido à comoção nacional, isso poderá distanciar ainda mais os números presidente Jor Biden de seu oponente. Quanto aos republicanos, porém, tudo dependerá dos próximos pronunciamentos de Trump, que já avisou tê-los alterado. Não é para menos. Quando um episódio coloca uma pessoa à beira da morte, os componentes emocionais que se sobrepõem são reveladores. A finitude da vida e o tempo que ainda resta alteram profundamente as percepções da vítima, no caso em questão, deste misterioso atentado. Na invasão do Capitólio, Trump inegavelmente teve um papel motivacional para seus seguidores baderneiros. A situação agora é diferente. Para uma campanha morna como estava até sábado, esse atentado abre uma possibilidade perigosa de conflagração mais acentuada e caberá a Trump anulá-la ou minimizá-la. Seus pronunciamentos, portanto, não devem conter qualquer tipo de incitação ao ódio ou revanche, até porque até onde se sabe, o atirador morto não possui qualquer ligação com os democratas – até prova em contrário. Paralelo a esse ponto, Trump não possui qualquer característica de vitimizar-se, e aqui mora o perigo: como encontrar a moderação e a tão comentada busca pela unificação do país? Serão cenas dos próximos capítulos, que começam a partir de agora durante as convenções republicanas.

Roberto Lucato

Ilustração: Freepik

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