Show da discórdia

Show da discórdia

EDITORIAL

Dado a um perfil mais ativista, não tive dúvidas de quem estava “xingando” o show da popstar Madonna. O comentário foi feito por minha mulher na manhã de domingo, depois de verificar o que diziam as redes um pouco antes de tomarmos o nosso café. No sábado à noite, assistimos juntos a boa parte da apresentação, enquanto ela levava a ligeira vantagem de se comunicar com duas amigas que estavam nas areias de Copacabana – uma delas, inclusive, cometeu um “sincericídio” na tarde de domingo sobre a ausência de paqueras; segundo ela, só havia “meninas”, vamos dizer assim. De fato, sobre os “xingamentos”, só poderiam ter sido feitos por extremistas bolsonaristas, que jamais defenderiam as minorias homenageadas pela diva durante sua apresentação, e sobre este tema, empresto um magistral comentário feito por Merval Pereira no jornal O Globo: “Madonna deixou tontas tanto a direita quanto a esquerda brasileira. A esquerda viu naquela multidão calculada oficialmente em 1,6 milhão de pessoas em Copacabana potenciais eleitores, ao mesmo tempo que vibrou com os arroubos sexuais de Madonna, vendo neles atitudes políticas progressistas que afrontavam os reacionários direitistas que se escandalizaram com a exibição. A extrema direita viu na exuberância de Madonna um pretexto para atacar seus fãs, considerando-a representante demoníaca, líder de uma seita satânica que existe para destruir os valores do mundo ocidental. O uso do verde e amarelo, mais que uma singela homenagem ao país que tão bem a acolhe há mais de 30 anos, passou a ser o resgate de um símbolo nacional que havia sido sequestrado pela direita bolsonarista. Provavelmente a emissora (Madonna) não tinha a intenção de mandar uma mensagem contra Bolsonaro ou a favor de Lula. Os receptores (o público em geral) podem ter recebido a mensagem de maneira equivocada, tirando dela um recado político que não estava explícito. Ou melhor, o recado explícito era outro, a favor das liberdades individuais, marca da sua carreira. Em meio a esse debate ensandecido, que reflete a radicalização da política brasileira, Madonna estava onde sempre esteve, fazendo as mesmas coisas que sempre fez em seus shows, em todos os lugares do mundo em que se apresenta, inclusive no Brasil”. Certíssimo. Aliás, correlacionar tudo o que aconteça daqui para a frente ideologicamente é de uma falta de cognição e sensatez dignas de pessoas com atraso intelectual.

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