A nova “Vaza Jato” ficou sem água rapidamente
Antonio Claudio Bontorim
Jornalista
claudio.bontorim@tribunadelimeira.com.br
A matéria do jornalista Fabio Serapião, da Folha de S. Paulo, coassinada por outro profissional, Glenn Greenwald, que ficou conhecido por expor diálogos nada republicanos dos integrantes da Lava Jato, representados pelo ex-juiz e hoje senador Sérgio Moro (Podemos) e pelo então procurador federal, hoje deputado cassado, Deltan Dalagnol, do mesmo partido, atiçou os bolsonaristas. E os anti-lulistas.
Publicada no site da Folha na última terça-feira, 13, e no dia seguinte no jornal impresso do mesmo grupo, a matéria mostra diálogos entre assessores diretos do ministro do STF (Supremo Tribunal Federal) também presidente do TSE (Tribunal Superior Eleitoral) à época, Alexandre de Moraes, sobre as investigações dos crimes praticados pelo presidente Jair Boslonaro (PL) e sua entourage, envolvendo pedido e troca de documentos de um tribunal para outro.
Os mais “espertinhos” tentaram comparar a situação com a da conhecida “Vaza Jato”, quando Greenwald publicou diálogos entre Moro, Deltan e demais procuradores e juízes entre si, obtidos através de um hacker, combinando ações para incriminar Lula e outros petistas, empresas e empresários de vários segmentos. Se naquela ocasião as mensagens foram hackeadas, neste caso mais recente, as mensagens foram conseguidas “através de dados de um telefone que contém essas informações, sem a necessidade de interceptação ilegal”, disse a Folha. Ao que tudo indica a deputada federal Carla Zambelli (PL/SP) também estaria envolvida nesse vazamento aleatório. A confirmar!
O personagem, porém, no caso o jornalista da Vaza Jato, e coautor da matéria, é o mesmo. O que dá a devida dimensão de que as mensagens entre o ex-juiz e os procuradores federais do Paraná foram reais e tiveram implicação direta no indiciamento e prisão do então ex-presidente, agora eleito novamente. Mensagens que mostravam a dimensão das irregularidades cometidas pela chamada “República de Curitiba”, a quem, jurídica e legalmente, não cabia comandar as investigações. O que ficou bem claro, posteriormente, quando o estrago já estava feito. Mas a pecha de combate à corrupção ainda está na boca de muita gente, que idolatrou Moro e seus vassalos.
No caso do STF, Moraes e seus assessores e do ex-presidente e seus aliados, hoje investigados por crimes de lesa-pátria, tentativa de golpe e uso da máquina pública para saciar seus instintos de poder, há algumas diferenças que precisam ser pontuadas. Por mais que pareçam ter semelhança, os dois casos não chegam nem perto, a não ser pela participação do jornalista norte-americano, que era casado com o deputado federal brasileiro, David Miranda (PSol), falecido no ano passado.
Na Vaza Jato, por exemplo, as conversas entre o ex-juiz e seus comparsas – comparsas, sim – mostravam um conluio para combinar o que e como fazer. O que no Direito, isso não seria possível, ou seja, o diálogo entre acusadores (procuradores federais) e juízes. Nessa matéria mais recente, sobre o STF e TSE (Tribunal Superior Eleitoral), foram apenas troca de informações e não combinação do que fazer ou não fazer. Só aí há uma grande diferença entre as duas situações. Não houve instruções do que fazer ou como fazer, apenas documentos solicitados, trocados e que serviram ao mesmo propósito.
Passados pouco mais de uma semana da divulgação, o que se nos apresenta parece não comportar a devida ilegalidade, como se apresentou, ou quis se apresentar, na matéria publicada. O fornecimento de provas repassadas de um tribunal para outro, não chega nem perto das divulgações da Vaza Jato, que mostrava as combinações entre juízes e os procuradores federais. Já o STF se fechou em torno de Moraes e as críticas da oposição assim como suas intenções acabaram não prosperando e deve ficar nesses dias, e nos próximos – e, provavelmente até as eleições municipais – nas hostes bolsonaristas, como mote de campanha para seus candidatos nos municípios.
O que parecia uma bomba acabou se transformando, por hora, num traque de salão e não resistiu aos dias seguintes. Ao que tudo indica, um possível enfraquecimento do ministro acabou não acontecendo, uma vez que até os dois bolsonaristas, também titulares, da Suprema Corte brasileira, fecharam as porteiras aos ataques e cerraram as fileiras a favor de Alexandre de Moraes. O corporativismo fala mais alto que qualquer ação política e, neste caso, que uma instrumentação no pós 8 de janeiro do ano passado. As marcas da quebradeira nas sedes dos Três Poderes, no Distrito Federal, falam muito mais alto e ainda repercutem.
Se isso vai abalar os inquéritos contra os criminosos (muitos dos quais já presos) até o ex-presidente Bolsonaro, o artífice mais que comprovado de todo o processo de ruptura, isso só o tempo, e talvez a lentidão do Poder Judiciário, dirá. As instituições civis precisavam mostrar sua força contra a conspiração bolsonarista, para evitar um novo abril de 1964. E neste caso específico, o 8 de janeiro de 2023. E futuros 1964 ou 2023.
Felizmente conseguiram!