Sabe com quem está falando?

Sabe com quem está falando?

EDITORIAL

Tempos atrás era mais comum o uso da pergunta: “Sabe com quem está falando?”. Normalmente essa indagação era proferida por autoridades públicas quando se sentiam ofendidas por serem tratadas como pessoas normais. Um caso relativamente recente foi daquele juiz que, sem usar máscara durante a pandemia, desacatou um policial que lhe aplicou uma multa, rasgando o papel ao proferir ofensas em plena orla santista. A cena foi filmada e não apenas causou a chamada “vergonha alheia” – seu comportamento foi ridículo – como provocou reprimendas ao magistrado patético – é o máximo que se pode esperar como punição a autoridades judiciais. Porém, se o tempo das famosas “carteiradas” está menos atual, o enfrentamento nunca esteve tão em alta como agora, e muito disso pela instalação de correntes ideológicas mais extremas e menos propensas à conciliação. Contribui neste cenário o universo digital e as mídias sociais em especial, um campo no qual os confrontos físicos foram substituídos pelas agressões verbais, “cutucadas” e insinuações. Atribui-se ao midiático ex-presidente do Corinthians, Vicente Matheus, a máxima na qual ele ensinava: “saiu na chuva é para se queimar”. Em tempos atuais, de bate-boca das redes, significa o seguinte: “fique atento, pois alguém irá invadir a sua praia”. O ex-presidente Donald Trump se tornou presidente, principalmente, por sua contundência nas redes, ambiente bem explorado pelos filhos de Jair Bolsonaro para a eleição do pai, e eis que segue firme um novo herdeiro deste perfil: Javier Milei. Ele não aparenta preocupações diplomáticas, tendo enfrentado recentemente a fúria – não da seleção – do governo espanhol e, às vésperas de desembarcar no Brasil, voltou a insinuar que o presidente Lula é corrupto, e “um perfeito dinossauro idiota”. Milei não estará na cúpula do Mercosul na próxima semana, mas provavelmente se encontrará com o clã Bolsonaro em Balneário Camboriú, e Lula deve estar pensando: “Ele sabe com quem está falando?”. Novos tempos, não necessariamente melhores.

Roberto Lucato

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