Roubar aposentados, pode
EDITORIAL
Carla Zambelli está sem shampoo para lavar seus cabelos. Não parece falta de cordialidade da justiça italiana, mas… falta de dinheiro. Isso foi revelado durante a tumultuada – e longa – audiência de custódia na qual a deputada tropeçou, caiu, passou mal e prosseguiu batendo na mesma tecla: ela seria perseguida política, não uma criminosa. Zambelli está certa e erradas ao mesmo tempo. Ao se envolver com um hacker na tentativa de produzir provas contra as urnas eletrônicas, ela foi acusada e condenada por invadir o sistema do Supremo Tribunal Federal. Prestes a ser incluída no sistema prisional, ela deixou o Brasil, foi aos Estados Unidos e depois para a Itália, país onde possui cidadania, tentando obter uma espécie de novo julgamento ou, na pior das hipóteses, asilo político. E neste ponto mora o seu eventual acerto – que não é, mas não deixa de ser um argumento um tanto plausível. Ela sustentará, junto a justiça italiana, que é perseguida pelo ministro Alexandre de Moraes, que ganhou projeção internacional ao ser enquadrado pelos Estados Unidos como violador de direitos humanos. Negar-lhe um shampoo pode ser uma prova, considerados alguns argumentos. Até onde saiba, diferentemente do empresário Sidney Oliveira, Zambelli não se beneficiou patrimonialmente por fraudar o erário. Também não desviou recursos públicos. Por que, então, teve suas contas bancárias bloqueadas é o ponto de análise. Até agora, a opinião pública não sabe com certeza quanto o INSS conseguiu reaver do dinheiro roubado dos aposentados, e se os envolvidos pela fraude estão presos ou não, ou se andam pela Faria Lima exibindo tornozeleiras eletrônicas. O INSS, através de servidores criminosos e por apresentar falhas em seu sistema de validação de descontos, é responsável solidário no desfalque. Não consta que o ministro Moraes, como faz em diversas situações, tenha se intrometido para ao menos demonstrar, aos pensionistas, que pode responsabilizar preventivamente os membros dessa quadrilha. Um exemplo claro de pesos e medidas distintos. Mandar o Bacen bloquear as contas da parlamentar é tão simples como tomar um elevador, enquanto rastrear fraudadores do INSS, não. O argumento que possa justificar a medida contra Zambelli seria impedi-la de prover o seu sustento fora do país, mas de que adianta isso agora se ela está presa? Não é toa que os norte-americanos ficaram convencidos facilmente que o ministro é parcial e tendencioso. As penas impostas aos baderneiros de 8 de Janeiro foram apenas a ponta de um gigantesco iceberg.
Roberto Lucato
Ilustração: Reprodução Banda B