Resgate financeiro
EDITORIAL
Finalmente o presidente Lula percebeu que, mais que manifestações de solidariedade com o povo gaúcho, o dinheiro no bolso é necessário. De nada adianta, agora, saber as dimensões do desastre para a reconstrução de pontes e estradas, até porque, lamentavelmente, a crise está longe de terminar. Porém, quem está acompanhando minimamente o noticiário deve ter visto e ouvido depoimentos que, cada vez mais, se aproximam de uma cruel realidade: as pessoas resgatadas, que tudo perderam, querem saber se terão seus empregos de volta e quando poderão comprar, com recursos emergenciais, uma garrafa de refrigerante e um pacote de biscoito. Levantamentos divulgados ontem, à respeito da empregabilidade, revelaram que mais de 90% das empresas do Rio Grande do Sul estão alagadas em uma situação surreal: empresários não sabem calcular os danos e quando será possível a retomada de suas atividades, enquanto os colaboradores não conseguem sequer chegar aos seus postos de trabalho. Diferente do que ocorreu na pandemia, muitas empresas estão agora semidestruídas, e isso é um agravante: esses danos exigirão manutenção ou substituição do maquinário, vislumbrando haver essa possibilidade, porque de nada adiantará a chegada de insumos, quando a acessibilidade tiver condições mínimas, sem cenários ideais de produção. Entre tudo isso, porém, algo tem vindo à tona: mesmo considerando que as chuvas são históricas e os alagamentos seriam inevitáveis, vários moradores seguem denunciando a incompetência de seus governantes. Ontem mesmo uma moradora de Porto Alegre disse com todas as letras: todos aqui sabem da inoperância do sistema de bombeamento das águas. Em sua avaliação, nada foi feito na última décadas para a reparação dos equipamentos, e se hoje não operam como deveriam, não é porque as casas de máquinas estão inundadas; é porque elas não funcionam mesmo. Portanto, enquanto seguem os resgates e eleva-se o nível do rio Guaíba, não se deve perder de vista o amanhã: dinheiro no bolso também significa sobrevivência, e um lugar para morar, igualmente.
Roberto Lucato
Ilustração: Freepik