Ratinho falou por todos; o presidente ouviu?

Ratinho falou por todos; o presidente ouviu?

EDITORIAL

Logo que ganhou toda a repercussão que merecia, a Operação Sem Desconto deflagrada pela Polícia Federal deu margem a diferentes manifestações, todas de repúdio. O apresentador Ratinho, ainda de sua casa, não fez propriamente um desabafo, mas um comentário envolto de tristeza e clareza. Como muitos, ele se mostrava inconformado porque as vítimas, em sua imensa maioria, eram pessoas humildes, presas fáceis desse gigantesco sistema criminoso. “E ninguém será preso, isso é que é o pior”, disse. No início dessa semana ele voltou à carga, mas desta vez do alto de seu programa. E agora, em longo e emocionado desabafo. Em dado momento, inclusive, ele falou o que todos nós gostaríamos de dizer: “se eu pudesse, não pagaria mais impostos; não tem jeito; a gente paga e vocês roubam”. Pois é assim que funciona. O governo federal, diariamente, aperfeiçoa seus mecanismos de fiscalização e arrecadação. Hoje em dia, por exemplo, o Ministério da Fazenda pode enviar aos cartórios indicação de protesto caso encontre alguma pendência, isso para constranger o contribuinte. Ou seja, se a cobrança é duvidosa, somente a Justiça pode intervir. Em resumo, o governo é ágil para cobrar, lento para devolver. Somente entre 2023 e 2024, segundo as investigações, seguem parados quase dois milhões de pedidos de bloqueio de cobranças indevidas nas aposentadorias, e por que? São inúmeras as “pontas soltas”. Quem analisa os pedidos junto ao Instituto é um robô; quando dependem de avaliação humana, não há gente suficiente para aferir a demanda e neste ponto, ao contrário de uma certificação mais apurada, o órgão, que trabalhava em conluio dos bandidos, liberava geral. Pouco importava se havia autorização, nada. Financeiras ou associações que incluíssem pedidos de desconto eram plenamente atendidas. Portanto, se essa porta não for fechada, em pouco tempo essas quadrilhas retornarão. Mas resta uma questão mais importante: a devolução dos descontos. Em tese, foram as financeiras e associações que lesaram os aposentados, certo? Portanto, esses CNPJs é que deveriam ter suas contas bloqueadas para a reparação. Mas, judicialmente, essas reparações levariam um século, o que indica o INSS como “devedor solidário”. O presidente Lula, até agora omisso, recuperaria pontos de popularidade se indicasse que essa devolução seria imediata, deixando a cargo do INSS cobrar das quadrilhas. É o que se espera.

Roberto Lucato

Ilustração: Reprodução Instagram

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