Quem foi premiado?
NA GRANDE ÁREA
DEIXAREI aos especialistas em números a quantificação do futebol deste ano que se encerra. Aliás, a FIFA já fez a sua parte durante a semana, quando divulgou o The Best mais esperado. Acho engraçado como o brasileiro continua a manter o seu “Complexo de Vira-lata” como definiu Nelson Rodrigues.
ACOMPANHEI pelo rádio, no anda e para de um imenso congestionamento no litoral, a divulgação em tempo real da premiação oferecida a Vinícius Júnior. A festa nos estúdios foi comparável à comemoração de um título, com direito à comentários como “agora foi feita a justiça” e outras bobagens.
ALÉM dessa geração mais nova não ter acompanhado o futebol brasileiro de um passado recente, e me refiro aos últimos quarenta anos, ela mistura alhos com bugalhos. Vamos à minha polêmica opinião: para mim, ele não passa de um marqueteiro pipoqueiro.
MAS VAMOS reconhecer: ele soube aproveitar sua vitimização. Transformou-se em um bastião das causas raciais, e isso deve ser elogiado, mas aqui existem questões diferentes. Na Espanha, as provocações dentro de campo, pelos jogadores, possuem uma conotação diferente. Quando Neymar, ainda no Santos, puxou a fila das “dancinhas”, é óbvio que os adversários ficavam furiosos.
MAS o brasileiro sabe diferenciar o que seja uma provocação sadia. Diego, quando sapateou no escudo do São Paulo em pleno Morumbi, fez uma estupidez imperdoável pela torcida. Justo que, até hoje, essa bobagem integre a lista de “maus modos” dentro do gramado.
VOLTANDO ao Real Madri, muitos dizem que Vini Júnior respondia às provocações racistas da torcida jogando mais. Impondo mais dribles e jogadas de efeito enquanto era vaiado e colecionava bananas à beira do gramado. Vamos recordar: Daniel Alves não só recebeu uma dessas bananas, como a descascou e comeu. Não se muda uma cultura por um gesto: muda-se por leis e punições.
O BRASIL, neste aspecto, está mais adiante das demais nações. A injúria racial é observada com maior nitidez, em casos até inusitados. Durante a semana, uma senhora, viúva de um militar, levou uma coroa de flores até a residência do presidente Lula. Após ver sua ideia desfeita por um policial, ela entrou no carro e, manobrando para sair, dirigiu-se ao agente chamando-o de “macaco”. Claro, ela foi detida.
VINI Júnior, por óbvio, não gosta da situação em que vive, mas a pergunta é: por que ele não saiu do Real até hoje? Qualquer time do mundo gostaria de contratá-lo, mas não. Ele se alimenta dessa situação para promover a sua “luta”, vamos dizer assim, como preferindo essa autoalimentação. Suas manifestações, assim, ganham mais projeção que seus dribles. Não à toa se transformou em um desejado garoto-propaganda, inclusive das casas de apostas.
QUANTO à definição de “pipoqueiro”, ela é apenas comparativa. Ainda que tenha feito gols importantes para o Real, e tenha se destacado em grandes decisões, Vini ainda não contribuiu com a seleção brasileira na proporção de seu status. Ele é um driblador, só isso. Não é criativo e menos ainda decisivo. Comparado à Neymar – e olhem que nunca gostei dele como atleta e pessoa –, ele é bem menor. Foi premiado quem, o jogador ou o ativista?
POUCOS ainda se interessam pela seleção brasileira, eu não. E confesso, ainda que, quanto mais o tempo passa, diminuam as chances do Brasil chegar ao Hexa, espero ver o Brasil jogar uma fase de semifinal em uma Copa do Mundo. Claro, desejo ter uma vida longa.
E, CONTRARIANDO alguns palpites que já ouvi, essa guinada passa por uma oportunidade aberta recentemente. Voltemos no tempo. Quando um milionário local disputou a prefeitura perla primeira vez, dizia-se que ele seria um bom administrador porque “não precisaria roubar”. Até concordo um pouco, mas a ressalva é que os ricaços não se fartam nunca. Eles desejam ficar ainda mais ricos, mas algo eles não toleram: a pecha de derrotados.
RONALDO Fenômeno, que deseja disputar a presidência da CBF, até hoje não se mostrou um administrador de primeira grandeza. Mas não deu vexames. Comparado ao John Textor, não conseguiu fazer do Cruzeiro um Botafogo, mas deu vida nova à Raposa que passava por um inferno administrativo sem precedentes.
A CBF não precisa de um gestor. Para esse cargo existem profissionais no mercado. O que ela precisa é alguém que entenda de seleção brasileira. Ronaldo vestiu a amarelinha desde os seus dezoito anos. Ele é um sobrevivente de uma geração que tinha tudo para dar errado, mas foi vitoriosa.
ACOMPANHO o site da entidade quase diariamente. A Confederação é envolvida com diversos campeonatos, das categorias menores até as seleções propriamente ditas, mas nunca se esquece de enaltecer o trabalho das federações. São elas que possuem um peso enorme para a manutenção de uma presidência, e elas é que terão de ser convencidas pelo Fenômeno. Uma vez que, dos clubes, ele terá mais facilidade para isso.
EDNALDO Rodrigues, o atual mandatário, é um fanfarrão. Ele viaja o tempo todo, come do bom e do melhor, se hospeda nos melhores hotéis, e faz o que bem entende. Como agora, despedindo o diretor de comunicação Rodrigo Paiva. Por que? Ele tem aparecido com mais frequência ao lado de Ronaldo.
É ASSIM que funciona, bem ao estilo do prefeito local, que graças aos céus tem os seus dias contados por aqui. E, voltando à seleção: duvido que Ronaldo, eleito, manteria Dorival Júnior como treinador. Ele encontraria uma solução mais imediata, como fez a Argentina. Os atuais campeões do mundo estavam em frangalhos quando Lionel Messi sugeriu a contratação de seu xará, Scaloni.
DEU NO QUE deu. Futebol é complexo, e não se ganha apenas nas preleções, nos treinos, mas no vestiário. Dorival como estrategista é fraco. Como comandante, mais fraco ainda. Renato Gaúcho faria um trabalho melhor que ele. Esse é o ponto. A seleção precisa de uma guinada estruturante, simples assim.
BEM, para quem achava que estaria sem assunto para essa coluna, já escrevi demais. Gostaria de agradecer, portanto, a companhia dos amigos e desde já desejar Boas Festas, a começar por uma Natal abençoado. Até o ano que vem, amigos, e ótimo final de semana!
Roberto Lucato
Ilustração: Rafael Ribeiro – CBF