Ponto Um
Uma história que se vai
Diziam os mais antigos – e a história confirma – que o Dr. Trajano de Barros Camargo foi uma pessoa visionária. E que, através da criação da Machina São Paulo, ele ofereceu inspiração e conhecimento para a formação do parque industrial de Limeira, mesmo tendo a sua morte prematura aos 40 anos de idade. Sua mulher, no entanto, era tão grandiosa como ele. Viúva, a partir de 1930, ela não só assumiu os negócios do marido, na ocasião um próspero empreendimento de beneficiamento de café, como quatro anos mais tarde ela se transformaria em uma das primeiras prefeitas do Brasil, indicada pelo interventor Armando Salles. Um reconhecimento aos esforços de D. Maria Thereza de Barros Camargo para a fundação da escola técnica que até hoje leva o nome do esposo. Diz a história que, mesmo nesta curta passagem pela prefeitura, ela teria calçado a região central de Limeira, que era de terra, com seus próprios recursos. Sua devoção por esta cidade foi imensa, retribuída eleitoralmente em 1935, quando conquistou uma cadeira como deputada estadual. Em 1975 ela faleceu em São Paulo, aos 81 anos de idade, cidade na qual passou a residir desde 1960. Coincidentemente, na semana passada, depois de muito tempo, uma inusitada inspiração me deu forças para correr nesta cidade novamente. E, ao descer pela rua Boa Morte, vi que estavam abertos os portões do chamado Bosque Maria Thereza e não tive dúvidas: entrei. É um local que conheço desde criança, quando morava na rua João Guilherme. Além disso, minha saudosa e querida mãe dizia que as crianças de sua época disputavam espaço para frequentarem a piscina da D. Therezinha, como ela era conhecida também, e desde a saída do zoológico mantenho dúvidas sobre o destino desta área. Também por coincidência, a prefeitura anunciou durante a semana que o bosque seria fechado alguns dias “para manutenção”, e perguntei a mim mesmo: para voltar a ser o que? O “nada” de hoje? Durante minha breve visita, parei por alguns instantes na pequena lagoa que mantém a inscrição, entre pedras, do nome de D. Maria Theresa, e de fato o cenário só me trouxe tristeza. Incluindo o de uma placa proibindo a pesca (do que?, pensei). Então vai: onde estão os projetos de conservação da história da cidade? Será que emprestar nomes a ruas e praças é o suficiente? Estão se despedindo deste plano os últimos representantes de uma época de ouro, sem que suas memórias sejam aproveitadas e definitivamente registradas. D. Terezinha deve estar triste no céu. Alguém ainda se habilitará para realizar esta tarefa?.
(Foto: Luciano Leão)