Ponto Um

Ponto Um

Para dar certo, falta o que? 

Não faz muito tempo manifestei, neste espaço, meu desinteresse por títulos de autoajuda. Aliás, não sou fã de nenhum escritor que se meta a decodificar a vida como se existissem fórmulas para tudo, principalmente quando tratamos de comportamento humano. Durante a semana, mesmo, uma autora escreveu quase um tratado para falar sobre “casais que dão certo”, usando como exemplo o duradouro casamento de Tony Ramos, algo inclusive raro na vida dos artistas de sucesso. No caso desta antropóloga, por exemplo, ela revelou que só está “sentindo essa possibilidade” com quase sessenta anos de vida, depois de três tentativas fracassadas. Fiquei imaginando: ela deve ser muito chata! Uma estudiosa, sim, porém chata e mimada. Chata, mimada, estudiosa e egoísta, começando por esta última característica. Seu perfil revela que ela jamais abriu mão de seus estudos ou de sua carreira em nome de uma relação amorosa. É um direito, mas ela sempre colocou em segundo plano a longevidade de uma relação porque, inegavelmente, isso é complexo. Dá trabalho. Demanda investimento emocional e requer “segurar as pontas” porque, afinal, atire a primeira pedra quem nunca… Vamos lá. Que marido nunca se irritou quando a mulher demorou para se aprontar? E que mulher nunca subiu nas tamancas quando o marido engatou uma conversa e se atrasou? O problema, nestes casos, se relaciona com a frequência dos inconvenientes, e não com a incidência deles, portanto dá para superar.  Porque a vida é assim, ou seja, na intolerância começa a desunião. A incompreensão é o berçário das crises, e isso vale para casais, amigos, até para namorados que ainda contam os meses que estão juntos. Portanto, a principal contribuição negativa de uma pessoa egoísta em um relacionamento é sua a incapacidade de aceitar que, em determinados momentos, os seus planos não são prioritários. Que hoje, a necessidade de algo diferente pode se impor diante de uma bucólica mesmice, que vai desde um bom dia desanimado até um frustrante cochilo no sofá. Dito isso, o exemplo de Tony Ramos não é diferente de milhares de romances que vingam, sim, longe dos holofotes da fama e distantes de uma vida confortável. “Dá certo” o casal que constrói suas próprias regras, que passa por cima delas também, mas que projeta um futuro a dois, tentando até o fim. E, sem dúvida, mesmo que esse fim jamais chegue, o que seria ótimo.  

 

Compartilhar esta postagem