Ponto Um

Ponto Um

Como nossos pais

A Inteligência Artificial, tecnologia empregada para montar aquele comercial da Volks, colocando lado a lado Elis Regina e Maria Rita, está apenas em fase de “aquecimento”: especialistas falam que até agora 10% desse potencial foi explorado. Não tive paciência em ver o anúncio, mas acompanhei a polêmica desencadeada sobre as autorizações póstumas, discussão que ainda engatinha. Porém, longe disso, o idealizador da campanha foi extremamente feliz ao incluir a trilha “Como nossos pais” enquanto mãe e filha dirigiam seus veículos. Composta em 1976 por Belchior e gravada no mesmo ano por Elis, no inesquecível álbum “Falso Brilhante”, a canção faz uma alusão nostálgica de como, em várias medidas, herdamos características de nossos pais, não apenas físicas. Quem teve o privilégio de crescer na época em que um olhar era suficiente para aprovar ou não aquilo que fazíamos, sabe o que isso significa. E, nestes tempos, ouvíamos histórias, conhecíamos referências e aplicamos estas experiências com seguranças e orgulho. O que não dá, evidentemente, é querer colocar um quadrado dentro de um círculo. Porque, “se apesar de tudo o que fizemos, ainda somos como nossos pais”, teremos sensações semelhantes, mas não iguais. Isso se aplica, por exemplo, ao evento Vem Pro Largo. Pertencia ao Rotary Sul quando foi reorganizado, e tive acesso às reuniões que oportunizaram aos clubes de serviços a participação no evento. Apesar das imensas improvisações no início, o retorno foi coroado com imenso êxito, não tanto pela variedade ou a qualidade das comidas e bebidas. O sucesso se deu pela reunião de famílias tradicionais que tanto fizeram por esta cidade, incluindo ações pela Confraria da Boa Morte. Em cada mesa estavam sentados representantes de uma época de ouro, muitos fotografados pelo Dr. Arlindo de Salvo. Sua companheira de tantos anos, minha querida e saudosa amiga Dona Tininha, não perdia a chance de assumir o comando de um microfone para cantar, uma vez o fazendo ao lado do médico César Cortez. Ainda tenho viva a lembrança de uma mesa formada por minha mãe Fransisca e pelos casais Maria Helena-Renato de Almeida e Marli-Vanderlei Teixeira, o inesquecível Pardal – eles chegavam mais cedo para guardar lugares. Pois é. A festa continua, seguirá até domingo, e certamente muitos filhos desta geração passarão pelo Largo da Boa Morte para matar saudades. Porém, levarão apenas suas memórias, conhecerão pouca gente presente e de alguma forma, farão como seus pais. É isso aí.   

Ilustração: Freepik

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