Ponto Um: conheça o “Poderoso Del Rey”

Ponto Um: conheça o “Poderoso Del Rey”

Poderoso Del Rey

 

O dia tinha sido exaustivo. Penso que ainda sou criança e aproveito o tempo livre para preenchê-lo ocupando espaços. Cansado, parei para recarregar o fôlego ao lado de uma conveniência, quando vejo um trio se aproximando. O pai conduzia sua filha ao banheiro, segurando o mais novo com uma das mãos, e falou: “Desculpe incomodar, mas poderia me ajudar? Não consegui sacar um dinheiro e preciso de ajuda para abastecer meu Del Rey, que está parado ao lado do posto; dois litros acho que dá”. Claro, disse ao homem, imaginando que ele morava nas imediações da igreja Bom Jesus. Deixando o menino com a filha, buscou seu carro e o estacionou ao lado da bomba. Abriu a tampa do capô e, me oferecendo um sorriso encabulado, disse que seriam três litros: “Vou colocar no tamborzinho no motor, dá pra chegar em casa; moro no NS das Dores”. Que aventura, pensei, e depois da manobra do frentista, recebendo meu aceno à distância, este chefe de família fez questão de me cumprimentar com um aperto de mão. “Deus abençoe por esta generosidade!”. Respondi imediatamente: “À todos nós, e cuide bem das crianças”. Sorrindo, ele disse que era o que gostava de fazer, e foi embora. Tive um Del Rey há muitos anos, mas nunca a ideia que seria fabricado como um trator. Porque o modelo que ele dirigia estava semidestruído, mas andando, e depois que ele saiu, feliz da vida, levei minha mão esquerda até o peito. E, profundamente, pedi a Deus perdão por minhas falhas, a mais recente, chegar naquela conveniência como se somente eu enfrentasse problemas. Minha mulher às vezes me chama de chorão, e ela tem razão: muitas vezes não somos gratos como deveríamos. Àqueles que nos ajudam, aos nossos familiares, aos amigos mais distantes e acima de tudo, a Deus, que nos permite acordar e recomeçar. Cenas como essa me tocam profundamente, o que explica porque não ligo a mínima para postagens de autoajuda, sequer para os livros. Pois é algo recorrente: sempre quando me aborreço, ou passo por momentos estressantes ou depressivos, imediatamente me deparo com uma cena “perguntando” ao meu íntimo: “está reclamando do que?”. Viver não é fácil, mas é possível. Cada um tem seus modos e, com eles, as ferramentas para acessar a paz. O problema é que, às vezes, somos egoístas, acreditando que somente encher o tanque de combustível nos leva a algum destino como aquele homem conseguiu, com três litros. 

 

Nota: Aos que solicitaram, inspirou o último comentário, o amigo Dr. Carlos Roberto Rocha

Ilustração: Freepik

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