Ponto Um

Ponto Um

Longevidade é isso

 

Usufruindo da rara oportunidade de passar uma semana ao lado de minha esposa, no litoral, vivenciei três situações inspiradoras. A primeira aconteceu durante uma tarde cinzenta, na qual aproveitei para cuidar das mãos e dos pés. Ao chegar em um conhecido salão no Shopping Jequiti, uma senhorinha toda atrapalhada me atendeu, se desculpando por derrubar tudo à sua volta. Dona Nenê, aos poucos, foi contando sua vida, e duas coisas me tocaram mais profundamente. Do alto de seus 72 anos bem vividos, ela disse que ainda precisava trabalhar, apesar de receber conselhos em sentido oposto. “O fim de ano foi bom, teve dias em que sai quase meia noite do salão! O difícil era voltar para casa”. Perguntei então onde era sua casa, pois estávamos na praia de Pernambuco, em Guarujá. “Em Vicente de Carvalho”, ela respondeu, uma distância equivalente a quarenta minutos percorridos de automóvel. Ao me despedir, sugeri que trabalhasse até quando pudesse: “Assim farei”, ela me respondeu, pedindo para que Deus me abençoasse. Minha mulher, saindo do salão ao meu lado, sussurrou que não tive sorte, pois fui atendido pela senhorinha mais lenta da casa, no que respondi: “Foi um privilégio, isso sim”. No dia seguinte, no interior de um posto para verificar os preços do óleo, fui atendido por um senhorzinho falante: “Pode colocar o carro aqui, eu mesmo troco, é rapidinho”. Acompanhando a agilidade de “seo” Antonio, ele disse que ajudou a abrir aquele posto, quando ainda tinha a bandeira Atlantic: “Trabalhei muito tempo aqui, saí, voltei e estou há 26 anos; ano que vem completo 75, 50 de casado. Não sei como a minha mulher ainda me aguenta, mas cumprimos a missão de criar dois lindos filhos, todos bem encaminhados. Acho que dentro de mais uns dois ou três anos vou parar e dedicar mais tempo para ela; pretendo viajar mais”. Ao completar o serviço, ele concluiu: “Não falei que usaria 7 litros de óleo?”. Do alto de sua experiência, ele não trocou apenas o óleo: fez uma revisão, e deixei o posto muito seguro. Finalmente, em um sábado à tarde, fui “convocado” pela esposa para ir a uma feijoada com samba. Na praia? Sim, e lá conheci o cantor e proprietário da casa, Luís Américo. Desfrutando de um ambiente fantástico, depois de ouvi-lo cantar ao lado de dois filhos, fui cumprimentá-lo novamente. “Américo, tenho discos de vinil com suas canções, estou lisonjeado!”, revelei. “Estou com 76 anos, aos poucos construi isso aqui e vou tocando a vida, está bom demais”, ele me respondeu. “Bom demais”,  no meu caso, foi conhecer essas histórias. Inspiração pura, que emociona.

Roberto Lucato

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