Ponto Um
Mama, mia
Quando as notícias não eram muito importantes, os editores costumavam dizer aos repórteres mais novos, na época das linotipos: “Façam uma nota com cinco linhas”. Porque antigamente os espaços eram muito disputados nos jornais, e não era aceitável incomodar os leitores enchendo linguiça. Mais eis que no início da semana, uma dessas informações “de cinco linhas” proporcionou um debate inusitado entre alguns comentaristas de TV. Objetivamente, a notícia era que uma mãe italiana, com 75 anos de idade, ganhou na Justiça o direito de “despejar” de sua casa seus dois filhos, de 40. Ambos possuem emprego, etc, mas não contribuem em nada, nem financeiramente, nem com afazeres domésticos. Segundo a matriarca, são autênticos “parasitas”. Uma das comentaristas chamou a atenção por se tratar de uma mãe italiana: “Se fosse latina dava para entender, mas italiana, não”. Ela tem razão. Talvez somente as mães judias sejam mais corujas que as italianas, mas o interessante do debate que acompanhei foi a enquete feita com os jornalistas, quando tiveram que responder com quantos anos deixaram suas casas. Apenas o âncora do programa tergiversou (deve morar com a mãe, ainda), mas os demais sabiam quando e como deixaram a casa dos pais, a maioria em tenra idade. E a tal “nota de cinco linhas” me fez aprofundar em algumas reflexões, pois vivo, ao lado de minha esposa Márcia, a síndrome do “ninho vazio”. Nosso filho felizmente está fora do Brasil, dando conta, e muito bem, daquilo que me confortou quando anunciou sua decisão: “preciso aprender a fazer as coisas, pai, e não apenas trabalhar”. O “fazer as coisas”, por exemplo, é trocar lâmpadas, arrumar a cama, pesquisar preços em supermercados, cozinhar e administrar seus próprios recursos. E desde os primeiros meses dificilmente lhe falo que estou com saudades, ainda que esteja, e muito; prefiro dizer que “estou com orgulho”. Porque sair da casa dos pais é como tirar as rodinhas das bicicletas, que apoiam as crianças quando aprendem suas primeiras lições. Mas é um momento decisivo: é aquele em que tudo o que foi passado para os filhos será testado. A educação, principalmente, incluindo os relacionamentos humanos, a capacidade de raciocínio e resiliência, o desenvolvimento da intuição e, porque não dizer, o despertar da vida adulta. O ninho não fica vazio, propriamente, porque foi construído para isso, mas crescer é tão bom como inevitável.