Polarização continua
EDITORIAL
Nove em cada dez entrevistados indicaram que não mudariam o voto dado no segundo turno das eleições presidenciais do ano passado. É o que revela a mais recente pesquisa divulgada pelo Datafolha. Se por um lado os dados revelam que a polarização ideológica segue firme e forte, outro levantamento sugere que as principais lideranças políticas daquela ocasião – Lula e o ex-presidente Jair Bolsonaro – não foram neutralizadas, ainda. Segundo a Folha de S. Paulo, “Entre eleitores de Lula, 40% dizem que a confiança nele cresceu, 41% apontam estabilidade e 19%, queda no item. O presidente tem uma aprovação, aferida na pesquisa, de 38% do eleitorado. Já 36% dos eleitores de Bolsonaro afirmam confiar mais nele agora, ante 46% que mantêm sua opinião e 17%, que confiam menos. É uma estabilidade notável, dada a temporada de más notícias que o ex-mandatário vive, da perda de direitos políticos a processos judiciais e escândalos como o das joias sauditas. Tudo isso espelha a manutenção do quadro de polarização no país, com 30% seguindo se declarando petistas e 25%, bolsonaristas, nos extremos da tabela proposta pelo Datafolha”. Diante disso, é improvável que ambos tenham papel secundário no próximo período eleitoral, e outro aspecto: parece que, novamente, o espaço para candidaturas ao centro, à direita ou à esquerda moderadas, inexiste. Porém, vale lembrar que as próximas eleições são municipais, ou seja, as pautas são mais próximas do eleitorado, nas quais Lula ou Bolsonaro pouco podem interferir. Haverá no máximo, portanto, um empréstimo passageiro das discussões nacionais, e neste ponto se inclui a polarização. Mais do que em qualquer momento nas últimas décadas, os candidatos terão que apresentar claramente suas ideologias, que assim os aproximarão dos eleitores. Com a moderação cada vez mais distante da realidade, aguarda-se com alguma apreensão os embates clássicos do bem contra o mal, e coisas do tipo. É o que temos até agora.
Roberto Lucato
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