Poder supremo
EDITORIAL
Depois de escapar de uma derrota no segundo turno, reeleito, o comando da administração pública de Limeira se transformou. Com a impossibilidade de ganhar um novo ciclo, o governo passou a deixar claro, rapidamente, que apenas as pautas próprias abasteceriam o noticiário sob sua orientação. A troca de comando na pasta de comunicação, por sua vez, possibilitou que essa implementação do “jogo do silencia” fosse mais veloz, uma vez que, aparentemente, não existe diálogo entre comandante e comandado; apenas irrestrita submissão do segundo. Tanto é que, comodamente, o secretário de Comunicação se dá o direito de não responder indagações de qualquer um, como se tivesse uma listinha de pessoas de interesse às quais seria autorizado a falar. Em outros casos, não. A questão desse personalismo não condiz com a condição obrigatória da publicidade institucional, e publicidade significa tornar público o que seja de interesse da comunidade. Nos últimos seis meses, porém, isso se acentuou, com a interrupção seletiva de informações, de novo, para um grupo de cancelados por ordem e determinação do mandatário. A situação continua assustadora, primeiro porque não é nada democrática; segundo, porque se beneficia de um contrato de prestação de serviços comerciais que impede a transparência de atos. Finalmente, porque o silêncio não pode representar o que se espera de um administrador público, e sim respostas. A comunidade, em última análise, tem o direito de ver e conhecer outras demandas que não sejam fotos de pessoas sorridentes. E, por mais estranho que seja, vivemos em um ano eleitoral, que por sinal acaba de enterrar a esperança por informações de utilidade pública. Em uma manobra radical, a secretaria de Comunicação simplesmente deixou de prestar qualquer esclarecimento como se estivesse impedida, totalmente, pela legislação eleitoral. Isso é uma inverdade, e representa um comodismo que não se explica: afinal, o que farão até as eleições os jornalistas contratados e pagos com o dinheiro público? Nada? Limparão suas escrivaninhas diariamente, só isso, ou farão outras atividades como monitoramento de danças ou aulas de ginástica? A secretaria de Cultura, não contramão desse absurdo auto isolamento, continua o seu trabalho, passando informações sobre seus cursos, peças de teatro e tudo que esteja ligado a essa pasta. Será que isso passou despercebido pelo chefe? Está tudo muito estranho e para aqueles que viveram épocas que considerávamos autoritárias, o que ocorre agora é algo sem precedentes. Que os limeirenses se atentem a isso quando tiveram que escolher entre mudar ou continuar.
Roberto Lucato
Ilustração: Freepik