Poder supremo
EDITORIAL
Jornalistas estrelados gostam de bater no peito quando se autoproclamam isentos ou independentes. Mas isso é uma meia verdade. Quando estão próximos de autoridades, ou delas recebem os benefícios de informações exclusivas, não apenas as divulgam como “bancam”. Por volta da hora do almoço, ontem, uma conceituada articulista do jornal O Globo trouxe informações sobre as ponderações feitas pelo governador do Rio Grande do Sul, Eduardo Leite, questionando a viabilidade das eleições acontecerem normalmente no estado. Segundo ela, fontes de primeiro escalão do Tribunal Eleitoral disseram que as chances do adiamento do pleito eram “zero”, justificando a complexidade do processo. Em suas apurações, como elegantemente se diz, toda a logística é determinada com enorme antecedência, como a destinação das urnas eletrônicas e aferições. Não só isso, existe um calendário eleitoral que identifica e referenda candidaturas, sem contar que prefeitos e vereadores em exercício cumprem seus mandatos até o último dia útil deste ano; qualquer prorrogação seria, em tese, inconstitucional. Tudo muito claro, bem explicado, cabendo aos receptores da informação concordarem ou não. Mais à noite, outro importante e estrelado comentarista político comentou a ideia do governador: “as declarações de Eduardo Leite foram absolutamente inapropriadas, porque não há como adiar o pleito devido ao desastre; isso abriria um precedente perigoso colocando em risco a democracia”. A diferença, portanto, entre informar e apoiar é clara. Imaginem se ela ou ele colocassem no final de suas avaliações o seguinte fato: “os ministros do TSE deveriam considerar que escolas foram arrasadas e, do ponto de vista emocional, as pessoas possuem hoje outras prioridades bem distantes da escolha de seus próximos representantes”. Claramente suas fontes jamais lhes abasteceriam de novas informações, por isso não foram apenas porta-vozes, mas apoiadores de uma decisão que, no mínimo, é contestável. Isso reforça apenas o quanto o nosso Poder Judiciário está no Olimpo, sempre mantendo seus privilégios incluindo debruçar os braços e não buscar alternativas em momentos de desastre ou comoção. A letra fria da lei, isso explica a falta de empatia, como se deuses fossem.
Roberto Lucato
Ilustração: Freepik