Pobre Frei das Mercês, traído pelas coxinhas
EDITORIAL
Tempos atrás, um movimento capitaneado por estranhos historiadores limeirenses, menosprezou de maneira contundente a lenda do Frei João das Mercês. História contada de geração em geração, informava que o frei em questão, acometido de grave moléstia durante passagem pelo Morro Azul, viria a falecer, sendo enterrado no local com as laranjas que carregava consigo. As pessoas que estavam com ele tiveram medo, segundo a lenda, que as frutas estivessem contaminadas e depois de algum tempo, de sua última morada teria nascido uma frondosa árvore, dando nome ao povoado que mais tarde se transformaria em cidade. Toco Heflinger, um dos mais respeitados historiadores locais, faz essa distinção com respeito, alegando que não existem comprovações desta teoria. Pois bem. A Sociedade Pró Memória de Limeira, também faz algum tempo, publicou uma obra descrevendo alguns pratos típicos da cidade, que fizeram sucesso como mais conhecido deles, talvez, o Cuscuz da Zifa. Neste livro, porém, criou- uma nova lenda, remontando a algumas visitas do imperador Pedro II feitas no mesmo Morro Azul. Segundo esses relatos, uma das cozinheiras que atendiam sua majestade se dedicaram a criar algo mais palatável para os filhos de Pedro II. Criaram uma massa com recheio e formato de uma coxa de frango; mesmo sem estar muito claro se as fritavam ou assavam no forno, o fato é que a iguaria teria caído nas graças das crianças. A pergunta é: qual a diferença disso com a lenda do Frei das Mercês? Nenhuma, e quanto à questão das coxinhas, até hoje ninguém publicou um estudo histórico de sua origem. Como possui, por exemplo, o sanduiche de Bauru. Por esse fato, há alguns anos alguém teve a “brilhante” ideia de recriar a lenda fazendo mais: uma competição da iguaria. Limeira já foi conhecida como a Terra da Laranja, depois virou Berço da Citricultura e mais recentemente, a Capital da Joia Folheada. Significa que não temos a menor identidade com nada, a não ser, como insistem os políticos atuais, com as malfadadas coxinhas do imperador. Limeira já recebeu milhares de visitantes na FACIL, na Festa da Laranja, e agora temos que engolir as coxinhas de outro imperador, Mário I? Tenham a santa paciência, isso é zombar do passado! Limeira nunca será a terra da coxinha, e merecia mais seriedade quando se trata da comemoração de seu aniversário. Não há nada pior do que a imposição de uma ideia, e para finalidade eleitoral, chega a ser ultrajante. Mas falta pouco para respirarmos ares mais democráticos, e que essa nuvem de desesperança desapareça de uma vez.
Roberto Lucato
Ilustração: secretaria de Cultura PML