Perseguição implacável

Perseguição implacável

EDITORIAL

Antes de se entregar para ser conduzido até uma cela especial em Curitiba, por sinal inaugurada em seu governo, o presidente Lula aproveitou cada segundo para “transfigurar” o inevitável: a sua prisão. Devidamente encarcerado, coube ao seu partido, o PT, dar seguimento ao périplo que, em vigília, aguardava uma espécie de ressureição. A missão foi tão bem-sucedida que entre esses fiéis estaria a futura esposa do presidente, Janja, com quem Lula deu-se ao desfrute na cadeia. Sua soltura foi igualmente cinematográfica, como se tivesse sido absolvido, notícia falsa até hoje aguardando reparação. Lula, portanto, soube capitalizar as investidas da Justiça para criar uma narrativa própria, o que lhe beneficiou imensamente do ponto de vista eleitoral. Não há dúvida que milhões de eleitores, em outubro de 2022, sequer colocaram na balança as questões – e condenações – sobre o sítio de Atibaia ou o Triplex do Guarujá: muitos o enxergaram – talvez até hoje – como vítima do sistema. A história se repete agora. Classificando a mais recente operação das Polícia Federal como “perseguição implacável”, o ex-presidente Jair Bolsonaro e seus aliados são investigados por tentativa de golpe de estado. Muito estranho porque, há mais de um ano, tudo o que envolveu as manifestações sobre o 8 de Janeiro, consideradas como “golpistas”, segue investigado. Centenas de pessoas continuam à espera de uma sentença em procedimentos que, à exemplo do que ocorreu com o presidente Lula, caminharam longe da liturgia judiciária. Lula deixou claro seu desejo de vingança (“f…”), não somente contra o ex-juiz Sergio Moro, mas com todos que possam representar riscos para sua reeleição. A continuar assim, seu governo transmitirá essa intenção e isso pode representar um efeito contrário, ou seja, criando mártires. Cá entre nós, investigar um ex-presidente e seu entorno por um golpe de estado não executado, um ano após das evidências, não é apenas um exagero: trata-se de uma piada.

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