Os riscos da felicidade

Os riscos da felicidade

Bem antes da pandemia, durante conversa com um empresário do setor artístico, ele se queixou de uma tendência – para ele – um tanto sombria: “o público presencial nos shows será cada vez menor”. Suas explicações: em primeiro lugar, está cada vez mais fácil uma pessoa baixar um vídeo para assistir em casa, reunindo amigos, inclusive; depois, fica muito mais em conta se levarmos em consideração o preço de comidas e bebidas. Finalmente, há mais conforto, não existe o “empurra-empurra” e o sujeito pode marcar o horário que quiser. Obviamente a Covid-19 tornou suas previsões ainda piores, mas felizmente tudo voltou ao normal e uma demanda reprimida tem lotado ainda mais os estádios e ginásios. Na verdade, nunca acreditei naquele sujeito, que continua vendendo seus shows e trocando seus carros. Sempre haverá gente nas arquibancadas, cadeiras e nas pistas de dança, porque “gente” gosta de… “gente”. Pessoas querem ver outras, como estão e como se comportam, e ouvir os ruídos das multidões. Além de tudo isso, quanto a ele, não passa de um dissimulado; não sei se isso o difere de um mentiroso, e também não sei o que é pior. E como é chato cruzarmos com quem se faz de injustiçado quando a verdade mostra o contrário. Foi o que mais ou menos fizeram os responsáveis pela segurança do rodeio realizado em Limeira. Depois do registro de um caso de estupro praticado no recinto da festa, e da truculência de agentes de segurança contra uma vítima, e não um agressor, juraram de pés juntos que serão mais eficientes. Será que apresentaram números para efeitos comparativos? Colocaram-se à disposição, antes dos eventos, para fiscalização pública? Comprovaram que sim, prestaram toda a assistência às vítimas? Declararam que possuem equipes de apoio para mulheres agredidas ou molestadas? No amor, não bastam as palavras; é preciso a oferta de flores, a vida nos ensina. E assim, dificilmente a festa será mais segura neste final de semana, porque elas nasceram no ambiente de risco. Das montarias inclusive. Ir a um encontro desses, portanto, é viajar para o desconhecido, é literalmente viver como se não houvesse amanhã. E para quem gosta, da poeira, inclusive, e dos riscos, não há nada que os faça trocar por um sofá ou um balcão de bar. Respeito todas as preferências, porque possuo as minhas, mas não tolero dissimulados que lucram de maneira gigantesca expondo a integridade física de um semelhante. Eles vendem com riscos, a felicidade.

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