O termômetro da Av. Paulista

O termômetro da Av. Paulista

EDITORIAL

Em apenas oito dias o governo Lula, recém-empossado, teve a seu favor o desmantelamento provisório das manifestações bolsonaristas (até então pacíficas) que se tornaram comuns em diversas capitais brasileiras. Obra e graça de baderneiros que vandalizaram a Praça dos Três Poderes de maneira irresponsável e criminosa. A partir de então, a grande dúvida que pairou sobre o imaginário das titias e titios do WhatsApp: – Seremos presos se sairmos às ruas novamente? A truculência com a qual o ministro Alexandre de Moraes tratou os “manifestantes”, solapando inclusive prerrogativas advocatícias, foi apropriada para os criminosos, mas exagerada para os incautos, e esse é o maior temor de quem ainda pretenda se atrever a vestir a camisa amarela. Em parte, essa dúvida será desfeita neste domingo, quando o ex-presidente Jair Bolsonaro medirá o tamanho de sua força política na Capital do Estado. Alvo de inúmeros inquéritos e, mais recentemente, acusado de organizar um golpe de estado, ele continua alimentando o noticiário, seja acusado de importunar baleias, seja por passar férias e pescar em Angra dos Reis. Em certa medida, a imprensa que alimenta o noticiário desta forma, com tanta intensidade, não contribui para o arrefecimento da polarização política em curso. Ao contrário, estimula a avaliação mais emocional das marchas e contramarchas do governo Lula, incluindo pedidos de impeachment protocolados no Congresso Nacional. Portanto a perseguição jornalística dirigida ao ex-presidente, fruto de outras que se desenrolam no âmbito jurídico – sem entrarmos na questão de mérito –, mais se assemelha a uma espécie de vingança pelo tratamento que ele ofereceu, durante quatro anos, a esta mesma imprensa. E por isso será curioso saber como esses jornalistas tratarão a manifestação prevista para a Avenida Paulista, claramente à espera de algum revés ou incidente para a manchete do noticiário. A destruição da imagem pública de Bolsonaro segue em curso, o desejo por sua prisão também, mas este “timing” será acelerado ou permanecerá estacionado a partir de segunda-feira. A conferir.

Roberto Lucato
Ilustração: Freepik

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