O tempo nos define por completo?

O tempo nos define por completo?

EDITORIAL
Neste final de semana acompanhei alguns capítulos de uma série que trata da presidência dos Estados Unidos, ou, melhor explicando, do quanto é difícil sair das regras e convenções, digamos assim. No começo da trama, um atentado mata o presidente, o vice e um ministro de urbanismo é o único disponível na linha de sucessão. De uma hora para a outra ele é empossado e passa a desconfiar de todos ao seu redor para estabelecer o seu próprio ministério. Aos poucos ele se aproxima de pessoas que demonstraram confiança em sua futura administração, uma vez que, aos olhos da imprensa, devido às circunstâncias, os norte-americanos estariam nas mãos de uma pessoa despreparada especialmente para tratar de assuntos externos, por exemplo, como capturar os terroristas que praticaram o atentado. O enredo desta série se identifica com uma dessas equações: a esta altura do campeonato, a vice-presidente Kamala Harris seria a melhor aposta dos democratas para liderar os Estados Unidos ou somente para vencer Donald Trump? Quando Hillary Clinton esteve perto de se transformar na primeira mulher a comandar a principal potência mundial, não parece que os eleitores a rejeitaram pelo fato de ser mulher. Ao contrário, ela venceu no voto popular, mas diferente da atual vice, ela era branca, de olhos azuis e muito rica. O problema é que Kamala Harris possui outras características que podem ajudá-la ou prejudicá-la, a depender do ponto de vista. Mas antes de enumerá-los ou analisá-los, o ponto é que ela já abriu fogo contra Trump, que terá de reinventar suas estratégias. Restou, nessa discussão, a solidão de Joe Biden, e o que resta é classificá-lo como um enorme ser humano. Porque, convenhamos, o massacre que ele sofreu desde o fatídico debate contra Trump foi algo desumano. Sob qualquer aspecto. Suas condições cognitivas são compatíveis para uma pessoa que chegou a sua idade, o que abriram dúvidas sobre sua capacidade de liderar a nação. Se esquecendo de nomes, fazendo acenos para o nada e cometendo gafes incompatíveis com suas atribuições. O sistema, como reproduzido na série, é implacável, e os interesses paralelos ao exercício de uma presidência são capazes de colocar ou retirar qualquer um que se apresente. Biden foi altruísta, e embora seu atraso em declarar sua saída possa ter prejudicado o seu partido, ele deixará a presidência no final do ano sob o estigma do eterismo e da impaciência dos financiadores das campanhas. É o lado cruel de quem teve o privilégio de construir uma longa vida. O tempo não pode nos definir em tudo.

Roberto Lucato

Ilustração: Freepik

Compartilhar esta postagem