O solitário senhor das sombras
EDITORIAL
Uma carreira política, com raríssimas exceções, é construída com algumas estratégias. E “algumas” porque, quando uma não dá certo, vai a outra. O ex-prefeito cassado Silvio Félix sempre se fez de “coitado”. Os mais antigos se lembram, lá atrás, de seu posicionamento contra os pedágios, e de sua intenção de parar a rodovia Limeira-Piracicaba deitado no asfalto, como protesto. Silvio sempre foi uma espécie de ator e essa habilidade, também no passado, angariou apoios importantes como o da ex-vereadora Elza Tank. Por conta dessa habilidade ele quase desbancou Pedrinho Kuhl no distante ano 2000, quando o ex-prefeito conquistou sua reeleição. Em 2004, porém, a água mole furou a pedra dura e, sob olhares desconfiados, especialmente por parte do empresariado e do que restava da chamada elite limeirense, Silvio conquistou a tão almejada sala principal do Edifício Prada. Mantendo a característica de “chorão”, ele agregou um novo traço a sua personalidade, talvez já existente: o seu perfil enigmático. Raramente ele compartilhava com seu staff alguma iniciativa, provavelmente porque seu isolamento pessoal tinha raízes. Silvio não tem, e nunca teve amigos. Sempre foi uma pessoa solitária ainda que, diante do público, se esforçava para parecer popular. E assim, durante os três primeiros anos de seu governo, ao lado de uma esforçada secretária, de um ser das sombras e de dois paus para toda a obra, ele pavimentou sozinho sua reeleição. A estratégia foi vitoriosa por algumas razões. Primeiro, porque ele canalizou esforços para entregar obras viárias relevantes – como ex-secretário de Trânsito ele conhecia politicamente o assunto. E, segundo, porque seus opositores não construíram, por pura vaidade, uma frente palatável de oposição. Em resumo, deu tudo certo: ele teve tempo de entregar realizações e seus adversários desprezaram o fato que o eleitor não vota com o cérebro, vota pelos olhos. Porém, de um pequeno sonhador, de origem humilde nascida no Nordeste, ele se transformaria. O acúmulo de afagos fez emergir aquilo que realmente ele sempre procurou: riqueza e poder. Os limeirenses, agora, se perguntam: seu herdeiro político será o pai melhorado ou piorado? Pensemos juntos, nos próximos editoriais.
Roberto Lucato
Ilustração: Freepik