O poder supremo

O poder supremo

EDITORIAL

Apenas em Limeira, entre os 5.570 municípios brasileiros, a palavra oposição não existe, em se tratando de política. Talvez nem no governo paulista, mas quando se trata de governo federal, sai de baixo. E o presidente Lula sabe disso: mesmo do alto de sua invejável experiência política, não consegue passar um dia sequer sem se lembrar do cravo e da ferradura. Como devidamente comemorado (“pela primeira vez neste país colocamos um comunista no Supremo Tribunal Federal”, disse ele), a aprovação der Flávio Dino fecha com chave vermelha uma maioria de ministros indicados pelo PT, herança que o partido deixa para, no mínimo, os próximos 20 anos. Há quem não veja relação entre isso e a posição jurídica dos ministros, uma vez que à época do julgamento do mensalão o PT se deu mal, não em meu caso. O STF, por exemplo, foi decisivo para que a ex-presidente Dilma Rousseff recebesse uma pena alternativa quando destituída da presidência. Ela manteve seus direitos políticos mesmo que a legislação fosse taxativa a esse respeito. E na mais recente anomalia, depois de mais de um ano, determinou que o processo que levou Lula à cela de Curitiba começasse do zero, em Brasília. Portanto, receber acenos do STF, em épocas de tamanhas estrapolações jurídicas, é um consolo e tanto, mas onde está a ferradura? No Congresso. Mesmo despejando 10 bilhões em emendas parlamentares em um único dia, Lula não conseguiu evitar a derrubada de seu veto sobre a desoneração da folha de pagamento, incluindo outro, de brinde, sobre o marco temporal. A imprensa melancia dos canais Globo tentava ontem, de todas as maneiras, poupar o ministro Fernando Haddad, e o próprio Lula, descaracterizando o episódio como “derrota”, mas o que teria sido se não um nocaute? Portanto, seguem a vida, o jogo, Lula, Dino, Lira e tudo o que possa oferecer resistências e oportunidades, porque sempre existirá um “jeitinho” para solucionar qualquer problema de ocasião.

Roberto Lucato

Ilustração: Freepik

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