O passado é sempre presente

O passado é sempre presente

EDITORIAL

Dizem que, quando Deus decide desligar o fio que nos liga à existência, Ele oferece um pequeno resumo, em forma de filme, de tudo o que fizemos em nossa caminhada terrena. Porém, não é necessário chegar a esse derradeiro ponto para nos exercitarmos, cotidianamente, com as melhores lembranças que pudemos construir. Mas, afinal: devemos revisitar o passado com frequência? O saudosismo é bom ou é ruim? O que ganhamos com isso? Quando, principalmente aos finais de semana, passeamos à esmo em automóveis ou percorremos trechos à pé em pequenas caminhadas, é inevitável observarmos confrontos entre o passado e o presente nas estruturas físicas da cidade. Aquele armazém da esquina, do “seo” Pacheco, no qual enchíamos de óleo garrafas de vidros não existe mais, tampouco a lanchonete vizinha ao edifício Tatuibi, na praça Toledo Barros, a Hollyday. O “Grupo” Coronel Flamínio, onde tantos se orgulhavam em estudar, virou um estranho museu, com adornos decorativos ainda mais estranhos, e até o célebre Bar Jardim, onde se consumis o melhor sorvete de massa da cidade, faz tempo se transformou em uma loja de quinquilharias. Esses não são apenas sinais dos tempos: isso indica que, queiramos ou não, as transformações físicas – inclusive a nossa – são inexoráveis. Quanto aos pequenos negócios, eles são tocados enquanto a saúde de seus donos permite; quanto aos prédios mais antigos, seus herdeiros simplesmente se ocupam com outras atividades, e o máximo que fazem é colocá-los à venda, ou para alugar. É assim a vida. Na semana passada, brigando contra o sono para assistir A Praça É Nossa, sob o comando de Carlos Alberto de Nóbrega, por algum motivo o programa exibiu lendários recortes de seus quadros há muito não mostrados. Estiveram presentes lembranças de personagens como o Canarinho, a Catifunda, a Velha Surda (original), Dona Vamércia (a fofoqueira), Nerso da Capitinga e Filomena (com Gorete Milagres), o Mendigo Caro Colega, Ofélia e Osório, o inesquecível “tô de olho no senhor”, o torcedor do Ituano, Zé Bonitinho, Vera Verão, Cremilda, Lilico (o homem do bumbo), Jeca Gay (com Moacyr Franco), Vitório e Marieta, Guarda Belo, Ronald Golias (com o impagável professor Bartolomeu Guimarães), deputado João Plenário; bem, a lista é enorme. Carlos Alberto começou as apresentar o humorístico em 1987 e hoje, se aproximando de seus 90 anos, ele está mais ativo do que nunca e não me parece que viva do passado. Por que? Simplesmente porque ele construiu um, e assim acontece com todos nós. E o nosso pode não estar documentado em filmes de rolo, fitas cassete, DVDs ou fotografias: ele sempre estará disponível na memória e merece ser visto e revisto a todo o instante, com leveza e admiração de quem participou dele.

Roberto Lucato

Ilustração: Reprodução Instagram A Praça é Nossa

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