O mundo não é o bastante
EDITORIAL
Poucas pessoas, no mundo, chefiaram nações por mais de duas vezes. Nos Estados Unidos, por exemplo, um político não pode dirigir o país por mais dois mandatos. Lula conseguiu esta façanha, com o requinte cinematográfico de sair da prisão para ocupar a cadeira mais importante do Palácio do Planalto. Impressões pessoais à parte, trata-se de um feito histórico, mas sob o crivo comportamental, é possível compreender parte da queda de sua popularidade segundo a mais recente pesquisa Quest. O que Lula pensava e desejava em seus dois primeiros mandatos está registrado e é sabido, porém, o que ele queria fazer agora começa a ser desvendado aos poucos. Por mais relevante que seja do ponto de vista histórico e político, Lula á humano como qualquer um de nós. E nós, humanos, apreciamos repetições até um determinado ponto. Ser presidente da República, inicialmente, deve ser algo sensacional. Porque se prefeitos sabem que um velório não acabará até a sua chegada, imaginem um presidente aguardado para uma solenidade. Saber que todos estarão à sua espera pacientemente, e que aguardarão suas palavras e suas decisões, por mais que o desaconselhem. Ser presidente significa atender aos mais diferentes anseios e pedidos quando se quer; colocar em pauta as demandas mais diversas e gastar ilimitadamente o cartão corporativo. Na prática é um vidão, mas o chato é a parte das reuniões. Das negociações políticas com congressistas famintos. Lula passou oito longos anos fazendo isso, e com menor frequência, quase seis participando do governo que ajudou a eleger. Portanto, ele deve pensado: quero voos mais altos. Chega, disse para si mesmo, de ouvir pedidos de governadores, de me importar com a imprensa; vou ao infinito e ao além, no melhor estilo Buzz Lightyear. Ou, o mundo não é o bastante, como 007. A negligência em governar o próprio país, privilegiando viagens e política externa, foi identificada pelos eleitores (60% consideram suas viagens excessivas), e assim sua aprovação caiu de 60 para 54%. Por sua idade, pelo que já fez, deve estar cantarolando “tô nem aí”, sucesso da década de 2010.