O mercado determina os preços, não um presidente
EDITORIAL
Enquanto o Rio Grande do Sul era duramente castigado pelas chuvas e centenas de voluntários se mobilizaram para o resgate de sobreviventes, em paralelo as esforço humanitário as medições dos impactos agrícolas eram projetadas. E o arroz, portanto, aparecia como um problema a ser superado. O governo federal, mesmo sem possuir dados suficientes sobre a quebra da safra – que já havia sido colhida, por sinal –, saiu em busca de compras emergenciais superfaturadas desde os primeiros movimentos. Esse é um problema recorrente da classe política: o imediatismo. Há um outro pior: a falta de planejamento. O presidente Lula, ao que tudo indica, acordou do sono profundo e agora, porteira aberta, tenta o imediatismo de contornar o preço da alimentação. Como decretos são indisponíveis para isso, a solução, por enquanto, foi culpar o clima e as taxas de juros, mas vamos lá. Desde a pandemia, países que não sabiam o que era inflação tiveram que conhecer algo que entendemos muito. Os preços, de um modo geral, mudaram de patamar, e como todos sabemos, eles não diminuem. Para complicar, a guerra entre Rússia e Ucrânia abalou o mercado de trigo e, um pouco mais tarde, a Espanha enfrentou problemas na colheita de azeitonas, o que afetou o mercado mundial de azeites. Em nosso quintal, os cafeicultores enfrentam sucessivas quebras de safra, o que fez o preço de um saco de sessenta quilos romper a barreira de três mil Reais. E a carne? E os irmãos Batista? Será que eles teriam alguma sensibilidade em atender a um telefone do presidente para que decidam melhorar o preço no Brasil? Claro que não. Finalmente, quanto à laranja, se alguém descobriu agora os efeitos do greening é bom saber que essa praga esta dizimando os pomares há dez anos; poucos querem continuar na citricultura, mesmo com a caixa peso custando mais de cem Reais faz tempo. Lula demorou para perceber tudo isso; estava mais preocupado em criticar o Banco Central e fazer de conta que o problema não era seu. Agora, como dizem os jovens, já era.
Roberto Lucato
Ilustração: PML