O jornalismo envergonhado

O jornalismo envergonhado

Antonio Claudio Bontorim
Jornalista

Faz tempo que o jornalismo brasileiro vive um dilema e uma crise de identidade de sua própria existência. Reluta em aceitar que precisa tomar partido. Uma decisão sobre sua própria realidade, seja de que lado for. O jornalismo tupiniquim carece de um cisma para não se deixar perder ou entrar no limbo. Ou então morrer sufocado numa crosta de limo verde, que margeia paredes mofadas e esgotos.
Está na hora de acabar com essa grande asneira da imparcialidade, por que ela não existe. Independência, menos ainda. Em cada parágrafo escrito nas redações ou em cada frase dita aos microfones radiofônicos e frente às câmeras de televisão, é uma demonstração clara de que a sardinha está, ora numa brasa, oura noutra. Há uma parcialidade explícita, que mostra a tendência espúria da especulação com a verdade e uma inveja bruta dos antigos confessionários das igrejas, nos quais os padres se escondiam, enquanto se divertiam com retumbantes confissões de imoralidade de seus fieis.
Hoje, no fino trato da mentira, na maioria das vezes, sem ter o esboço de uma reação, os jornalistas levitam de uma montanha para outra, expondo sua aura, entre a luz forte e a escuridão profunda. Jornalistas que, na insignificância de seus poucos conhecimentos, transformam a sabedoria de botequim em ignorância filosófica e aí por diante. Caminha a passos largos pelas vias da “vira-latisse rodrigueana” (ou “rodriguenha”, sei lá), sem se importar com sua importância e de seu papel junto à opinião pública.
Essa levitação abriga um medo profundo em assumir seus próprios pensamentos, faz com que jornalistas fiquem à mercê de sua própria arrogância sem perceber que estão perdendo o tempo correto em suas manifestações. Indica, sobretudo, uma falsa expectativa em estarem atentos aos avanços da comunicação, quando na realidade não perceberam que estão vivendo no atraso de um tempo remoto, que hoje não espelha mais qualquer sinal de credibilidade.
Cada um tem sua própria – ou imprópria – consciência, o que muitas vezes não traz nenhum resultado positivo, enquanto tropeçam numa falsa pluralidade de opiniões, que nem sempre condiz com suas próprias atitudes. “Sou contra, mas já fui a favor; sou a favor, mas continuo contra”, é a melhor forma de definir essa imparcialidade, que passa longe da objetividade da informação.
O jornalismo envergonhado é esse de todos os dias, que precisa dar uma prova de que não é um armazém de secos e molhados, como falava Millôr Fernandes, mesmo vendendo justamente secos e molhados. É essa inconsistência que permeia, hoje, a maioria das grandes figuras da imprensa nacional. A maioria de todos nós, jornalistas, que desaprendemos a mostrar claramente o que pensamos e como pensamos. Estamos todos fechados dentro do armário da prepotência, enxergando em linha reta, sem conseguir olhar para os lados.
Eu já tenho o meu lado. Desde sempre. Não sou e nunca fui imparcial. E isso não me torna menos jornalista. Apenas mostra minha identidade profissional!

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