O “berço esplêndido” da segurança nos estádios de futebol

O “berço esplêndido” da segurança nos estádios de futebol

Antonio Claudio Bontorim
JORNALISTA
claudio.bontorim@tribunadelimeira.com.br

Gosto de futebol. Palmeirense que sou, escondendo meu fanatismo pelo Verdão para a hora da explosão dos gols e dos títulos conquistados e sou pouco dado a comentar futebol, a não ser como torcedor. Sem as interjeições e, às vezes, as táticas dos boleiros, que assumiram microfones de emissoras de rádio e TV, recitando esquemas e escalações para os técnicos.
“Uma linha de cinco protegendo a retaguarda, enquanto os alas avançam para ajudar os meias adiantados a abrir a defesa adversária”, diria o ex-jogador e técnico-comentarista Caio Ribeiro.
Não é isso, entretanto, que quero e pretendo comentar. Muito pelo contrário, apesar de estar muito ligado com o futebol. Há muito que torcidas adversárias dos grandes times não podem mais se encontrar nos estádios, por conta da falência na segurança pública como um todo. Em vários estados brasileiros, especialmente em São Paulo, os clássicos só têm a torcida mandante, deixando o espetáculo triste e sem vinda. Sem qualquer coloração que represente a alegria do futebol.
E por quê disso tudo? Porque o Estado como um ente institucional perdeu o controle da violência e, em vez de combate-la como se deve, prefere a tranquilidade de torcida única o que nem sempre é garantia de paz. Tudo sob o comando tático do MP-SP (Ministério Público do Estado de São Paulo), que antes de estudar o comportamento de torcedores violentos, conhece-los e proibi-los de frequentar os jogos, acomodam-se nessa estrutura falida, por ele próprio decreta-la.
Ainda nesta semana, a torcida palmeirense foi privada – pelo menos em partes – de assistir a final do Campeonato Paulista de Futebol Feminino, no clássico Palmeiras e Corinthians, que deveria ser disputado no Allianz Park, mas foi deslocado para Campinas. Sorte dos torcedores locais, que apesar do feriado, não lotaram o estádio Brinco de Ouro.
A justificativa, para variar, foi a mais tosca possível. No mesmo dia, às 11h, jogaram no Itaquerão, batizado de NeoQuímica Arena, Corinthians e Cruzeiro. Tudo para evitar o encontro das torcidas organizadas da Raposa com a Mancha Alviverde. A Polícia Militar afirmou que não poderia garantir a segurança, apesar de estarem separadas por mais de uma dezena de quilômetros. Falência pura e inquestionável da segurança pública do Estado de SP, que hoje tem a polícia mais letal do país.
É fácil matar crianças, adolescentes, estudantes, invadir velórios para constranger familiares. Difícil mesmo é combater a marginalidade embutida em grupos de torcidas organizadas. Que a inteligência da PM e do MP-SP sabem quem são, mas preferem evacuar estádios, alijando assim os verdadeiros torcedores e amantes do futebol dos espetáculos.
Há muito, na Europa, já se deu um jeito nisso. E por conta de uma tragédia. E a pergunta que fica é: por que não usar, aqui, os mesmos métodos que deram certos por lá? Exige trabalho, esforço conjunto e muita transpiração. Ninguém, entretanto, quer deixar a sala com ar condicionado e poltronas macias. Então é muito mais fácil restringir os direitos aos torcedores.
E as consequências disso são óbvias. Agora, por exemplo, o Atlético de Goiás quer proibir a torcida palmeirense de adentrar ao seu estádio, neste sábado, 23, para assistir ao jogo entre o time da casa e o Verdão. Explicação: a Torcida Dragões Atleticanos é aliada da Máfia Azul, organizada do Cruzeiro de Belo Horizonte, e poderia haver confronto com a Mancha Alviverde, que emboscou e matou, recentemente, um torcedor da Raposa. Todos os portais noticiosos estão mostrando que o MP-GO pediu torcida única.
Ora, o que a torcida – a verdadeira, não a quadrilha organizada – tem a ver com isso? Se houvesse uma identificação – e, com certeza há – dos membros dessas organizadas, bastaria proibi-los, de entrar nos estádios, mediante medidas cautelares. Que foi o que aconteceu justamente na Europa, após um confronto entre torcidas do Liverpool, da Inglaterra, e da Juventus, de Turim, numa final da Liga dos Campeões da Europa, na Bélgica. Isso há 39 anos. Quando a tragédia completou 30 anos, o jornalista Jamil Chade fez uma interessante e elucidativa matéria para o jornal O Estado de S. Paulo.
Para quem não se lembra, no dia 29 de maio de 1985, um confronto entre torcedores ingleses, os chamados hooligans, e os italianos, na final da Liga dos Campeões da Europa, no Estádio de Heysel, na Bélgica, causou a morte de 39 pessoas e deixou mais de 600 feridos. De lá para cá, muitas coisas mudaram por lá e todos podem assistir a todos os jogos. Torcedores identificados nos estádios, promovendo algum tipo de arruaça ou violência, são proibidos de frequentarem os estádios.
Está na hora de colocar essa prática em prática aqui no Brasil também. Urgentemente. A teoria já provou que ela resolve!

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