O agro não é apenas “pop”
EDITORIAL
Jornalistas que cobrem o Palácio do Planalto revelaram, sem grande alarde, que o presidente Lula pretende fumar o cachimbo da paz com artistas da música sertaneja. Isso será feito durante um almoço que o cerimonial de outro palácio, talvez da Alvorada, prepara. Dá para imaginar o furor que a primeira-dama Janja sente desde já, se imaginando fotografada ao lado de Chitãozinho e Xororó e lamentando a ausência de Gustavo Lima, que teria recusado o convite. O interesse do presidente é tão simples como simplório: aproximar-se do agronegócio fazendo as pazes com artistas que estiveram ao seu lado nos primeiros mandatos e depois debandaram. É engraçado e chega a ser patético classificar os produtores rurais em pé de igualdade, e quem conhece minimamente a vida no campo sabe disso. Em Limeira, por exemplo, há muitos anos a produção de citros não “carrega a cidade nas costas” como foi na década de 1980. Novas doenças e instabilidades econômicas obrigaram pequenos e médios produtores a procurar outras culturas, quando não eram forçados a venderem suas propriedades aos conglomerados Cutrale e Citrosuco. Hoje, comenta-se que uma caixa peso de laranja pera seja comercializada por 100 Reais, algo absurdo e inimaginável. Por que? Os pomares estão desparecendo aos poucos em nosso estado e somente quem possuía um grande capital – inclusive para perdê-lo – se manteve. Isso explica porque muitos empresários se aventuraram a plantar a correr no centro-oeste e atualmente, sim, estão muito ricos. Andam de jatinhos próprios e, nas estradas, caminhonetes que custam cerca de 300 mil Reais, mas esse é o agro privilegiado, que talvez goste das duplas que estarão com o presidente por status, não porque conhecem música. O homem do campo seria melhor representado se incluísse os pequenos produtores de verduras, de mandioca, quiabo e abobrinha, pois eles correm riscos reais a todo o instante e possuem mãos calejadas pelo manuseio dos implementos, quase sempre rudimentares. Gente que conhece a terra como ninguém, as épocas de plantio, as chuvas e as secas, e provavelmente prefira ouvir o som de uma viola de sete cordas ou um galo cantando. Esse Lula…
Roberto Lucato
Ilustração: Freepik