No passado, o passado

No passado, o passado

EDITORIAL

Quando inaugurado nas imediações do Parque Egisto Ragazzo, às margens da Via Anhanguera, o primeiro shopping genuinamente limeirense causou um verdadeiro furor. Afinal, as mais conhecidas lojas que tradicionalmente se encontravam no centro da cidade migraram para lá, com filiais. A imprensa participou da inauguração festiva, porém, passado nem um ano depois, as primeiras crises se instalaram. A principal delas: locomoção. Distante de qualquer ponto do município, o atual Limeira Shopping não negociou como deveria o acesso fácil pelo transporte público. Além disso, a gestão institucional – e não comercial – praticada por sua administração apresentava dificuldades em descobrir o que os limeirenses queriam. A aposta, naquela época, se concentrou nos consumidores das cidades vizinhas. Portanto, todos os investimentos de mídia, em uma época com baixa influência faz redes sociais e, no geral, da internet, sumiram da cidade. Crises mais sérias, provocadas por decisões mais desastrosas, levaram o empreendimento à ruína, recuperado décadas depois. Não se pode dizer que se trata de uma peculiaridade limeirense desprestigiar o seu próprio comércio. Histórias existem em qualquer lugar do planeta e uma delas, esta semana, chamou a atenção. Levantamento feito por Vicente Vilardaga, publicado na Folha de S. Paulo, descreveu a quantas andam dois antigos centros comerciais da conhecidíssima Rua Augusta, outrora espaço obrigatório no comércio da chamada alta costura. Em tempos em reinavam absolutos estilistas como Dênis e Clodovil, as madames da elite paulistana levaram ajudantes para carregarem finas sacolas contendo os mais encantadores vestidos de voil, seda ou linho. Naquela época se destacavam duas importantes galerias: a Ouro Fino e a Ouro Velho. Na primeira, 12 lojas do conjunto estão fechadas e quanto a segunda, dos 44 pontos comerciais disponíveis, 20% estão à espera de locação. As formas de consumo mudaram, é verdade, mas a clientela da Augusta também, e para pior. Profissionais do sexo e traficantes de drogas tomaram a rua e suas imediações há décadas, afugentando não apenas os remanescentes daqueles anos dourados, como o público jovem que sequer se interessa mais em paquerar “ao vivo”. As galerias seguem tentando um lugar ao sol, e tomara consigam. Por isso, quanto mais vivemos, mais descobrimos que existem muitas situações que não podem conviver com o presente, nem merecem ser atualizadas. Elas devem mesmo é permanecer ao passado, como boas lembranças.

Roberto Lucato

Ilustração: Paulo Pinto – Agência Brasil

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