Não há improvisos na diplomacia

Não há improvisos na diplomacia

EDITORIAL
O ex-presidente Michel Temer teve uma carreira política marcada pelo comedimento. Exceto quando protagonizou alguns raros rompantes nos áureos tempos do antigo MDB, seus demais pronunciamentos sempre foram discretos, especialmente depois de assumir a presidência da República. Tão discretos que alguns deles os fazia na garagem de sua casa, ao receber empresários e recomendar “tem que manter isso”. Diferentemente, o ex-presidente Jair Bolsonaro sempre foi estridente, especialmente quando se via instado a motivar sua “tropa”, membros do chamado “bolsonarismo raiz”. Aliás, uma conduta que trouxe dos tempos de deputado, quando exibia um perfil preconceituoso e agressivo contra mulheres, em especial. No cargo de mandatário supremo, colecionou frases de efeito que foram devidamente recortadas e analisadas pela imprensa, especialmente àquela que não lhe era simpática. Lula, por sua vez, nunca escondeu ser uma “metamorfose ambulante” e agora, dia sim, dia também, solta alguma manifestação que estimula seus oponentes, quando não chega a provocar outros chefes de Estado. A crise diplomática instalada entre Brasil e Israel, depois de sua comparação entre o holocausto e os ataques israelenses na Faixa de Gaza, foi apenas mais uma escorregada presidencial, desta vez um pouco mais séria. Lula não compreende que determinados assuntos são por demais sensíveis que sequer reparações históricas são admissíveis. Por isso a banalização de algumas classificações é perigosa, como o “genocídio”, porque tecnicamente possuem uma caracterização própria. O holocausto talvez seja, na história humana, o exemplo mais robusto, cruel e perverso na busca da eliminação de um povo, não de um exército ou de uma organização terrorista ou criminosa. Assim sendo, não há comparação em nenhum outro sentido, o qual Lula tentou oferecer metaforicamente. O presidente deveria saber que este caso é diferente de seus embates recentes, como com o presidente Javier Milei, para reconstruir seu raciocínio e fazer melhor do que sua esposa Janja fez pelas mídias sociais, tentando explicar o inexplicável. Quem fala demais dá “bom dia” até à cavalos, porém no caso de autoridades a situação é mais complexa, e em particular daqueles que representam uma nação. Como lembrou a jornalista Miriam Leitão em artigo publicado no jornal O Globo, não existe improviso na diplomacia.

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