Na Grande Área

Na Grande Área

GOSTARIA de dedicar a coluna de hoje, à exemplo do Ponto Um, ao meu grande amigo e companheiro João Valdir de Moraes, e uma das maneiras que encontrei foi relembrar com imenso carinho – e agora com imensa saudade – de algumas passagens que vivemos em tantas jornadas esportivas.

JOÃO VALDIR construiu algumas máximas, e uma delas é bastante atual. Quando na condição de comentarista, ele insistia: “Esse time não chuta, como esses caras querem fazer gols?”. Ele estava certo. Com o passar dos anos, os dribles e arremates de fora da área passaram a ser raros.

O PEQUENO Notável também era direto e não ficava rodeando para aliviar seus diagnósticos. Chegava a se irritar, também, quando algo dava errado, mas saía com classe e bom-humor. Uma vez ele fazia reportagem de campo no Pacaembu, um jogo do Corinthians. Depois da partida, Edmar Ferreira, que narrava o espetáculo enquanto eu comentava, pediu que entrevistasse o atacante número 9, autor do gol.

O PROBLEMA é que o Corinthians tinha três atacantes negros e ao deixarem o gramado todos tiraram as camisas. João Valdir não sabia mais quem era quem, mas não deixou a peteca cair: – Vou falar com outro destaque do jogo, esse sim jogou demais, Edmar!

AS VEZES o problema era outro. Fazíamos um jogo da Inter na Rua Javari e o João Valdir passou a escalação. O número 10 do Juventus, se não me engano, se chamava Guilherme e na metade do segundo tempo João Valdir anunciou uma substituição no Moleque Travesso: – Edmar, anote aí na sua papeleta… No Juventus, alteração! Entra o número 15 Guilherme, substituindo o número 10.

IMEDIATAMENTE o Edmar perguntou: – Sai o Guilherme para a entrada do Guilherme? João Valdir ficou furioso porque o técnico do Juventus havia alterado a escalação antes do jogo e não lhe entregou o papel certo. O Guilherme era de fato o número 15. Pois ele foi até o banco de reservas para tirar satisfação, assim identificando o verdadeiro culpado pelo engano.

NOS PROGRAMAS de rádio, João Valdir também lutava contra a velocidade da internet, de vez em quando. Como ele passava pelo jornal pela manhã, ele imprimia seus destaques para serem lidos à tarde, sem se importar muito para conferir a data das notícias. Certa vez ele estufou o peito para dar a sua manchete, não lembro qual era, e imediatamente o Edmar interrompeu: – João Valdir, esse sujeito foi contratado há dois, nem está mais nesse time! Essa notícia é velha!

VELHO é você Edmar, que não perde a chance de me atazanar!, disse ele, que costumeiramente trocava farpas e carícias com o nosso amigo em comum. E assim era o nosso querido Pequeno Notável: honesto, verdadeiro, autêntico e, como me referi no Ponto Um, um verdadeiro artista.

Deixo registrado, portanto, especialmente à sua filha Karol, meus profundos e sinceros sentimentos pela irreparável perda, e a todos que o queriam bem quanto eu. João Valdir levou para o céu sua rica história, e deixou para nós, seus amigos e admiradores, saudades eternas. E na memória, só alegrias!

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