Mudar de time é improvável
EDITORIAL
No futebol funciona assim. Se você pergunta o time de alguém e a resposta é Corinthians, isso diz respeito apenas a uma preferência. Não significa que, sendo palmeirense, você não possa se sentar ao lado dessa pessoa em uma mesa de bar. Seu convidado teve seus motivos, particulares, para escolher o preto e branco, e você, o verde. Em tese, isso deveria acontecer na política e uma notícia chamou a atenção na última sexta-feira, publicada pela Folha de São Paulo. Segundo a matéria, “O Palácio do Planalto identificou em pesquisas internas a resiliência de uma base bolsonarista que não tem mudado sua opinião negativa sobre o governo”. E mais: “Nas palavras de auxiliares de Lula, passados dez meses de mandato, existe uma calcificação de um eleitorado hostil ao petista que não responde positivamente a nenhuma política do governo. A avaliação na área política é que, apesar da vitória eleitoral de Lula, o conservadorismo ganhou espaço no país. Nesse sentido, o Planalto tem tentado desviar de polêmicas nos costumes e colocado foco em políticas econômicas”. Temos aqui três pontos interessantes. O primeiro, claríssimo, é que Jair Bolsonaro conseguiu introduzir a agenda conservadora em boa parte do eleitorado – na verdade isso sempre existiu, mas nunca foi despertado. Talvez esse novo grupo “conservador” nem saiba direito o que deseja, mas ele sabe perfeitamente o que não quer. O segundo ponto: por maior que seja sua história, o presidente Lula não extrairá, dela, unanimidade. Provavelmente metade dos eleitores brasileiros rejeita peremptoriamente o petista, e ponto final. O terceiro: a classificação de “bolsonarista” daqueles que rejeitam Lula é leviana. No exercício de minha profissão, por exemplo, faço críticas, quando pertinentes, a qualquer político ou governo, inclusive ao presidente Lula. O que não significa dizer que, não gostar, não apoiar ou desaprovar o petista me reduza à condição de “bolsonarista”, o que classificaria como insulto. Lamentavelmente, nestes tempos de fortes emoções, há muita gente trocando alhos por bugalhos, porque maior e mais consistente que a figura de Bolsonaro, é a pauta ideológica que ele conseguiu despertar. Com todos os seus erros. É o que teremos pela frente nas próximas eleições.