Manifestações de ocasião

Manifestações de ocasião

As lembranças dos dez anos passados das manifestações de junho de 2013 nos dizem duas coisas: como o tempo voa e porque aqueles jovens sacudiram o Brasil. Desde aquela época, vale lembrar, a questão não era – como de fato não foi – o aumento de 30 centavos no preço das tarifas de ônibus. Havia, na verdade, um clima de insatisfação generalizada contra o governo de Dilma Rousseff e as rotineiras reportagens sobre os caminhões de dinheiro público que eram despejados na construção de estádios pelo Brasil. Dilma conduzia mal a economia e principalmente a política, não possuía qualquer carisma e ficava claro, a cada dia, como ela se atrapalhava em seus pronunciamentos, desde ensacar vento até prestigiar a mandioca. Bom destacar também, que a influência das redes sociais e seu poder de capilaridade atingiam o seu ápice, a ponto de causar uma colossal manifestação que surpreendeu até mesmo as autoridades constituídas. O partido da presidente, o PT, talvez enfastiado com o longevo poder e se preparando para repatriar Lula ao comando da nação, não leu como deveria aquela insurgência que apenas começava. No ano seguinte, o “Não vai ter Copa” apenas demonstrou esta imaturidade, e o “7 a 1” contra a Alemanha foi a cereja do bolo, abrindo caminho para o inevitável impeachment dilmista. Algumas lideranças políticas nasceram daquele movimento, mas este, perdeu seu fôlego com a chegada de Michel Temer ao Palácio do Planalto e mais tarde, teve sua identidade precarizada após o fortalecimento – ou surgimento, seria mais adequado – da direita pelas mãos de Jair Bolsonaro. Em alguma medida o ex-presidente herdou essa onda de insatisfação, o que contribuiu para sua eleição, e o que temos agora, depois de dez anos? A impressão é que o idealismo daquela geração não serviu para muita coisa. Lula voltou ao poder, a máquina continua à disposição dos eleitos de ocasião e a própria Lava-Jato, que parecia algum benefício de uma nova ordem, fez água – ou fizeram água dela. Em resumo, um movimento que não teve força suficiente para ficar, arrisco dizer, lamentavelmente.

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